BNDES financia desmatador e trava fundo de preservação da Amazônia
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Pode-se acusar Bolsonaro de tudo, exceto de falta de coerência. Na área do Meio Ambiente o governo faz tudo dentro da lei —a Lei da Selva. Numa ponta, o governo usa o BNDES para financiar desmatadores com verbas públicas. Noutra ponta, trava no mesmo bancão oficial a execução de um fundo com doações estrangeiras destinadas ao financiamento de projetos de preservação da floresta. Podendo preservar o meio ambiente, a gestão Bolsonaro se dedica a estragar o ambiente inteiro. O ex-ministro antiambiental Ricardo Salles destruiu a engrenagem de fiscalização do Ibama e do ICMBio. Depois, saiu do governo pela porta dos fundos para estrelar um inquérito em que é acusado de se associar a madeireiros pilhados na maior apreensão de madeira ilegal da história.
Descobre-se agora que a opção preferencial do governo pelo desmatamento inclui uma parceria financeira com a turma da motosserra. A revelação de que fazendeiros flagrados pelo Ibama desmatando a Amazônia obtiveram R$ 28,6 milhões em empréstimos do BNDES para a compra de maquinário agrícola introduz escárnio num enredo que já era escandaloso. O mesmo BNDES que entrega verbas públicas aos desmatadores do “ogronegócio” está impedido de utilizar verbas do Fundo Amazônia, criado para financiar com doações internacionais projetos de preservação da floresta.
O Fundo Amazônia é o maior projeto de cooperação internacional já concebido para conservar a floresta amazônica. Em uma década, recebeu doações de R$ 3,4 bilhões. O grosso da verba (93%) veio da Noruega. O resto, foi doado pela Alemanha. Dinheiro a fundo perdido, sem a necessidade de ressarcimento. A iniciativa subiu no telhado depois que Ricardo Salles passou a questionar, já no primeiro ano da gestão Bolsonaro, a gestão dos recursos, feita sob a supervisão técnica do BNDES.
A implicância com o modelo que funcionava bem levou alemães e noruegueses a interromperem as doações. Bolsonaro deu de ombros na ocasião: “Podem fazer bom uso dessa grana, o Brasil não precisa disso.” Na verdade, o Brasil precisa desesperadamente de recursos para combater o desvario ambiental. O dinheiro disponível no Fundo Amazônia está retido há quase três anos. Nesse período, o único negócio que prospera no Brasil de Bolsonaro no setor ambiental é a indústria do desmatamento. Com o aval do BNDES.