CARA GENTE BRANCA
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Ontem, um jovem negro no Rio foi impedido de usar o elevador “social”, por uma mulher branca que o achou “perigoso”.
Uns dias antes, uma jornalista em Salvador se recusou ao comando de revista, por um agente da Guarda Municipal, negro.
Uma semana trás, um gay branco chamou uma mulher negra de “macaca”.
Cara gente branca,
temos aqui, pelo menos três casos em que vemos o racismo cotidiano, sem vergonha, pilantra, safado, de pessoas brancas.
Sejam homens brancos, sejam mulheres brancas.
E mulheres que são minoria de gênero, DEVERIAM saber o impacto que isso tem na vida AO PONTO DE defenderem direitos de outros seres humanos. Mas não.
Mulheres brancas sempre olham pra mulheres negras como inferiores, e homens negros como estupradores. Olham para ambos como agressivos, perigosos.
“Tenho medo dele”, disse Wanessa Camargo, vulgo W.C.
Ela, enroscada com um cara branco, violento, agressivo e perigoso até o talo. Ela tem medo de um jovem negro no BBB, e a direção do programa não faz nada para evitar o pior – porque o pior vai acontecer.
E Wanessa ainda vai sair de vítima.
Brancos usam a cor da pele como privilégio no Brasil para estar acima da lei. Não pode ter elevador de serviço e social no Rio. Eduardo Paes foi quem vetou isso. Entretanto, brancos cumprem?
Tem que ter revista nos blocos. Mas a jornalista branca decidiu que ela não seria revistada por um homem negro, mesmo ele sendo uma AUTORIDADE DE ESTADO para isso.
O gay branco, esqueceu que era vítima de homofobia em dois palito, e chamou uma mulher negra de macaca.
A primeira coisa que vocês tem que saber é:
Não importa quem fala isso pra vocês, racismo é um problema estrutural que fode o país, como um todo. E enquanto isso não acabar, não teremos um país. O fim do racismo é um tipo de marco civilizatório.
Você não entende, né.
Vamo explicar.
Racismo não é sobre cor. É sobre poder.
E no Brasil, não há racismo com branco – tampouco com judeu branco. Eles andam, para se defender do genocídio, dizendo que são alvos de racismo. Relaxa, neném. Você só é um genocida mesmo.
Todas as pessoas brancas no Brasil que desfrutam dos privilégios sociais e econômicos de pessoas brancas estão fora desse risco. Até porque, mesmo pessoas brancas pobres estão.
Mas deixa eu te explicar:
Pensa na cultura do estupro.
É um problema só de mulheres? Não. É um problema civilizacional. Com 400 mil estupros por ano, reportados, o Brasil é um criadouro de agressores. Não será um país enquanto isso não for resolvido. E você não tem que ser mulher pra lutar. Precisa ser gente. Alguém que quer que o mundo avance.
A mesma coisa o racismo.
Pessoas negras estão há décadas apontando isso, e vocês acham que esse é um problema delas. Não é. É seu. Enquanto houver um jovem negro proibido de existir, você será preso a esse sistema.
Mulheres brancas e acadêmicas saíram e saem em defesa de seus direitos. Parabéns. Esquecem muitas vezes das mulheres negras e indígenas. Mas elas saem, e constrangem muitos de vocês. Certo elas.
Pessoas negras saem em defesa de seus interesses, e vocês, fazem o quê?
Deixam elas sozinhas.
Ou fazem uma campanha de ignorar e deslegitimar.
Outro dia, um camarada veio dizer que eu não poderia falar sobre racismo, porque não sou negro.
Eu fiquei igual Nazaré fazendo conta, The Meme.
Primeiro que, o racismo não é um problema negro. É um problema exatamente branco.
Segundo que ao fazer isso, você não é fiscal de luta, nem tem isso. Você quer é SILENCIAR quem te incomoda e acessou teus lugares de poder. Seja preto, seja pardo, seja branco.
Terceiro que eu nunca busquei validação em lugar negro nenhum. Tá pardo no meu documento, e eu nunca procurei por turbante, prêmio, espaço. Eu nem quero estar em Wakanda. Eu nem quero ser lembrado por nenhum movimento negro.
Porque isso não me importa. Não me traz nada.
Eu cresci em uma família totalmente atravessada por raça. Criado, vivido, pais, avós, primos. Vi, dentro de casa, o que eles sofriam na rua, sendo mais velhos que eu. Fui educado no morro, por mulheres que traziam no corpo uma dor que você não viu.
E nada disso me deu vontade de botar um rasta.
Pelo contrário, o que eu botei na cabeça foi o ódio e o discurso dessas pessoas, e há 20 anos repito: o maior problema do Brasil é racial.
Vivi atravessado pelos problemas de raça que uma família negra tem. Minhas irmãs, as que estão vivas, não entendem porque eu estou nessa, se eu poderia “passar” e “limpar a raça”.
Eu não vejo problema nenhum em passar de branco num país onde branco e preto sejam respeitados em todos os seus direitos. Mas hoje, não me importo em ser o que você quiser que eu seja, desde que você entenda que O MAIOR PROBLEMA DO BRASIL É RACIAL.
Se você é brasileiro, esse problema te diz respeito.
Eu quero que se foda reconhecimento. Já sou odiado por todo mundo. Fodace todo mundo também. Mas eu preciso que você entenda que esse problema é estrutural, e a culpa também é sua.
O meu lugar de paz é dentro de mim.
O que você, branco e branca que viveu por sua vida todos os privilégios disso, faça, é interromper o privilégio de outros brancos como você. E chamar essas pessoas para uma adesão urgente. Essas pessoas não vão me ouvir. Porque eu sou agressivo, cafajeste, coisas que Mariliz Pereira Jorge, mulher branca, me chamou. Ela faz com que pessoas brancas não me ouçam e não ouve pessoas negras.
Mas você, que é branca, precisa se fazer ouvida entre as suas.
Essas desgraçadas que querem direitos, mas pisam em outros.
Não tem pra onde fugir, seja lá o argumento que você use.
Não seremos um país, enquanto brancos tiverem todo esse poder, ilesos.