Ciro revela a branquitude brasileira

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É um péssimo dia pra ser Ciro Gomes.
Aliás, na esquerda, todo dia é um péssimo dia pra ser Ciro Gomes.

Em parte, o povo tá batendo nele, porque já ia bater mesmo. E em parte, Ciro deu mole grandão.

Em 2018, lembro que levei Marina Silva em várias favelas, pra conversarmos com mulheres negras e faveladas sobre as propostas dela. Num domingo pela manhã, estávamos no Capão Redondo, num frio de 10 graus. Marina sentou, e umas 20 mulheres conversaram com ela, sobre política, economia, nutricídio, educação, trabalho, direitos humanos.

Dias antes, eu tinha ido na mesma FIRJAN que Ciro foi ontem, lá em Botafogo, e vi Marina falar.

A Marina que falou na FIRJAN, foi a mesma que falou no Capão Redondo. Foi a mesma que falou na UneAfro, que falou em Caxias, que falou em Nova Iguaçu, que falou na Band. Mesmo discurso, mesma objetividade. Marina não diferenciava a mulher negra na Universidade da Correria, projeto que eu coordenava no Cais do Valongo, para um grupo de empresários na Berrini.

Ciro foi infeliz nessa declaração, ele sabe. Conversei com ele em Lisboa, e gravei a entrevista, feita por mim e Cinthia Rocha, diretora de jornalismo da Coluna de Terça, tá no Youtube. Eu entendi o Ciro. E li muito mais sobre economia depois da conversa com ele. E eu morei 44 anos na periferia e em favela.

Ou seja. 

A favela entende, Ciro. Eu tava contigo, eu te entendi. 

Ocorre que Ciro não é o único a ter conceitos equivocados nesse mundo da democracia branca brasileira. Não se esqueça, que Lula invadiu o morro com as Forças Armadas, e ajudou a implantar o maior projeto de extermínio negro do século 21, com Sergio Cabral, que está preso: as UPPs, que foram as aceleradoras das milícias que atualmente comandam o Rio. 

Lula também foi responsável pelo aumento vertiginoso do encarceramento de jovens negros. E Lula tem como vice um genocida, Alckmin, condenado pelo próprio PT, pelo aumento dos homicídios praticados pela PM de São Paulo. 

Então, meu camarada, não bato em Ciro, para livrar o couro de Lula.

Lula, que inclusive, tem Ciro como um dos três brasileiros que ele admira. 

São todos brancos, e míopes. Numa campanha racista. Que apaga negros e nem comenta sobre Vila Cruzeiro. Cobrei Lula disso, até hoje nada.

Faz assim, sai da sua indecisão, e vota em candidatos negros. Na prática, não estaríamos debatendo quem é mais ou menos racista, se todo mundo votasse em Péricles, por exemplo. Preto, do morro, trabalhador. Mas a gente acha bonito ver indígena vencer eleição na América Latina. E nós, continuamos votando em branco, que quando não caga na entrada, caga na saída. 

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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a última com você na cama.

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