Crente egocêntrico
Leitura: 2 minPor Bia Souza
Meu telefone toca.
Uma noiva desesperada. Nenhum prestador de serviço atende. Faltam dias pro casamento. O caos. Ao menos na cabeça dela.
Eu tento acalmar. Vai dar tudo certo. É o seu dia.
Ela fala qualquer coisa sobre Deus e pessoas gentis.
Me faz pensar.
Quando eu era da igreja, me ensinaram um Cristianismo que pouco vejo nitidamente hoje em dia.
Me disseram que ser cristão era difícil. Era, sobretudo, servir. Ser bondoso, gentil, generoso, lutar com a nossa animosidade, e que o espírito de combate era pra ser usado contra a nossa vontade de fazer o mal, em que dimensão fosse.
Aquela coisa de “o mal que não quero fazer, esse eu faço, e o bem que eu preciso fazer, esse eu não consigo”.
Não sei se é a Era da informação que faz tudo chegar aos ouvidos mais rápido.
Mas os crentes que ando vendo, são os egocêntricos na fé.
O cara tem todos os direitos. Deus dá! Deus cuida!
Já seus deveres como cristãos, isso passa ao lado.
A oportunidade de exercer o altruísmo tá ali, como um mendigo, suplicando que lhe olhem.
Mas esse santo do ego enorme, ele não é obrigado a nada! Ele já tem uma fé e basta.
Se nas relações não basta só amar, quiçá na fé.
E olhe bem, não tô falando de quem mata.
Tô falando do crente cidadão de bem, da direita e da esquerda também. Tem lado político nesse estado de espírito, não.
Aquele que, no alto da sua soberba cristã, ousa ser egoísta e se orgulha em dizer que não se importa com ninguém ou, às vezes, finge. Ou nem vê que finge.
Mas eu sou teimosa, e como poetizou Elisa Lucinda, faço uma adaptação e grito:
“Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo, mas se a gente
quiser, vai dar para mudar o final!”
É que se eu desacreditar de vez, o sono eterno vai parecer muito agradável.