Cuba

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Pra falar de Cuba contigo, a gente tem que combinar que tamo na mesma página. Pra falar de Cuba contigo, temos que ter conhecimento de uma parte da história.

Mas, como brasileiros, ANTES de falar de Cuba, temos que falar da Passarela 9.

A Passarela 9 da Avenida Brasil. Ali, em frente ao Complexo da Maré.

Um lugar destruído, em ruínas, com usuários de crack e outros entorpecentes.

Quem são essas pessoas?

São o efeito colateral que o teu sistema fez. Pessoas para quem o capitalismo não deu conta de reunir caminhos e oportunidades.

Precisamos falar, inclusive, da Maré. São 160 mil pessoas que moram num lugar sem saneamento, sem comida de qualidade, sem estrutura urbana, tratadas como prisioneiros num campo de concentração. A Maré é apenas uma das 1.024 favelas do Rio.

Pra falar de Cuba, precisamos antes falar de Kathlen. Jovem negra, grávida, assassinada pela polícia aos 23 anos, na frente da avó. Caiu no chão, morta. Precisamos falar de 116 milhões de pessoas com fome. De 36 mil mulheres vítimas de violência doméstica por dia. Da morte de um jovem negro a cada 4 minutos. Dos trabalhadores entregadores de aplicativos, neo-escravizados. Dos hospitais abandonados pelos governos. Das pessoas morrendo de Covid sem oxigênio. Dos cemitérios em São Paulo abertos 24 horas. Precisamos falar de 535 mil mortes.

Precisamos, inclusive, falar do Festival de Jazz do Capão. Que não recebeu apoio do governo porque os músicos decidiram denunciar o fascismo. E recebeu respostas religiosas fundamentalistas, da direita conservadora. Agora, podemos começar a falar de Cuba.

Entenda o seu lugar no mundo, depois vamos falar de Cuba.

E pra começar a falar de Cuba, você precisa saber quem foram Jesse Helms e Dan Burton, ambos, do partido de Donald Trump.

O Embargo dos Estados Unidos a Cuba, por meio da Lei Helms-Burton, foi uma RESPOSTA desproporcional dos norte americanos ao levante cubano que depôs Fulgêncio Batista, o presidente de Cuba, em 1958. A Revolução Cubana, com Fidel Castro, o argentino Che Guevara e o povo de Cuba, alcançou sua meta: tornar a ilha independente dos abusos econômicos e políticos dos Estados Unidos.

Se você não sabe nada sobre isso, nós não podemos falar sobre Cuba. Porque o que está acontecendo são duas coisas:

COISA UM: Os Estados Unidos até hoje, mesmo proibindo todos os países do mundo de exportar pra Cuba, não aceita a soberania do povo latinoamericano e caribenho. Cuba é algo que dói no Império, até hoje. Cuba, é como aquela mulher negra, pobre, que coloca a faca na garganta do fazendeiro branco. COISA DOIS: O Departamento de Estado Americano tem um projeto pra America Latina, e por isso apoiou TODAS as ditaduras nas décadas de 1950 e 60, e os golpes – que incluem Colômbia, Bolívia, Peru, Venezuela, e as ondas das extremas-direitas na Argentina e no Brasil, todos sabem que Moro foi capacho do Departamento de Estado, junto com Deltan.

Aos norte americanos interessa a desestabilização da America Latina, para que eles nos subjuguem na fragilidade econômica. Porque a CHINA, que detém mais riqueza que todos os países do mundo, excluindo apenas Estados Unidos, o Bloco Europeu e o Japão, a China pôs suas garras na África, e fará da África seu novo mercado consumidor.

E os Estados Unidos não vão entrar na África. Eles não vão entrar na Europa. Eles vão entrar na America Latina. Nós seremos, e já somos, quintal dos abusos de Washington.

Biden reconhece Direitos Civis. Mas DO POVO DELE.

Biden respeita o direito das mulheres. Mas as mulheres DO POVO DELE.

Biden respeita o Black Lives Matter. Mas as lives que matter são as black do POVO DELE.

Nós, somos os cucarachas, que vão levar no cu, de novo.

Com um presidente que BATE CONTINÊNCIA PRA BANDEIRA dos Estados Unidos.

Ele liberou a entrada de norte americanos sem visto. E nós, somos deportados de lá.

Todas as nossas redes são visíveis pra CIA.

A CIA tramou pra João Goulart. Pra Dilma.

Então,

ao ver manifestantes em Cuba nos protestos, os “grandes protestos pela liberdade”, PARCEIRO, SAIBA:

NINGUÉM ALI NASCEU ONTEM, SÓ VOCÊ.

Tem grupos de EXTREMA DIREITA em Cuba, articulados como o MBL no Brasil. Bancados por cubanos de Miami, os bolsominions de lá. Com esse papo de “não temos liberdade”, esquecem que Cuba não é um país igual aos outros, é o único que se levantou CONTRA GOLIAS.

Se um povo não quer carregar as consequências dessa escolha, então, ok, protestem.

E parece ser o caso.

Mas.

Se vocês acham que o capitalismo será o paraíso,

ah, minha criança. Gustavo, Gustavo, Gustavo,

GUS TA VO.

Se Cuba aperta, é porque ela NÃO TEM ESCOLHA. Se a Helms-Burton, uma lei predatória, não cai nem com um presidente negro, ENTÃO FODACE o discurso de liberdade dos americanos.

Porque HOJE a França comemora a Queda da Bastilha. É bonito ver europeu ser revolucionário e tacar fogo em tudo. Mas cubano, quando peita os Estados Unidos com Fidel, é crime.

As pessoas que me mandam mensagem pedindo pra eu me posicionar, porque lá tá difícil,

amigo, É ISSO QUE CHAMAMOS LUTA.

Errado nessa história NÃO É CUBA. Cuba é vítima do Império. Esse papo de Biden “ah, o povo de Cuba clama por liberdade”

Namoral, Biden?

Quando os Black Panthers clamaram por liberdade, o que o FBI fez com Fred Hampton, o Black Messiah?

Quando Malcolm X clamou por liberdade, o que o FBI fez com Malcolm? Quando Rev. Dr. Luther King, Jr. clamou por liberdade, o que o FBI fez com Rev. Martin?

Quando George Floyd CLAMOU POR AR, o que a polícia fez com ele?

QUE LIBERDADE, BIDEN?

Que liberdade as pessoas tem pra sequer entrar aí?

Que liberdade vocês levaram pro Iraque? Pro Afeganistão? Pro Vietnam?

Senta lá, Biden.

Para de sua palhaçada, coroa, assina o fim da Helms-Burton, e deixa a Ilha viver.

Agora,

pros que ficaram,

É VERDADE.

Não tem paraíso.

Cuba não pode ser o paraíso da esquerda brasileira, tampouco o paraíso futuro capitalista da direita brasileira. Primeiro porque Cuba não pertence a esquerda, nem a direita brasileiras.

Segundo, porque sim, o pau está torando no lombo, e não me refiro aos protestos, que, publicamente digo: não valido.

Mas tem gente com vida muito limitada. Então, do jeito que tá, Cuba não tá bem. Só discordo que a solução seja o fim do regime, mas sim, O FIM DA LEI HELMS-BURTON. Então Cuba vai receber investimento, parceria, do mundo todo. E vai poder aliviar a pressão. E o povo poderá encontrar um caminho que não seja comer na mão dos americanos.

Os Estados Unidos querem fazer com Cuba o que fizeram com Floyd. Asfixiar.

O mundo deveria olhar pra Cuba e tomar uma decisão corajosa de mandar a Helms-Burton tomar no cu. Vocês tem que aprender a odiar o jogo, não o jogador. Muita solidariedade ao povo cubano, e a coragem que Cuba tem, ainda, de resistir. Mas, meus amigos: nós, brasileiros, não temos moral pra falar deles. Nós estamos todos cagados. Muito, muito cagados.

Temos um millhão de Cubas no Brasil.

Em cada favela, em cada aldeia.

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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