JN

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Eu gosto muito de Jornal Nacional.
Amo, na real. Zero medo de ser cancelado por quem quer que seja, pra mim, o principal programa jornalístico do país, assistido na cobertura da Berrini, onde trabalha o advogado Paloma, a Nova Holanda, na Maré. 

Me apedrejem.

Cresci vendo Jornal Nacional. As crianças da minha rua brincavam de Programa de Calouros do Silvio Santos, imitando o Pablo, o Sidney Magal, a Gretchen.

Eu imitava Cid Moreira. Sentado na mesa da cozinha, olhando pro nada, dando uma notícia tão fantasiosa que faria o bolsonarismo parecer obra de estagiários.

Mas eu tinha 5 anos, eu podia ser fantasioso. Já eles, tudo véio, pedindo ajuda pra disco voador.

Novela e Jornal Nacional me formaram. Desculpa aí, galera progressista e esquerda BEM COERENTE da PUC, UERJ. 

O Jornal Nacional me falava do país que eu tinha,

a novela me falava do país que eu queria ter.

Que Roque Santeiro chegasse em Cavalcante. Que Sassá Mutema desse um pau no Sarney. 

Dito isso, um afago e um carinho na sua memória, 

tô aqui me perguntando o que foi o apagão de notícias ontem no Jornal Nacional.

E é pra ser uma crítica construtiva. Ó, quanto elogio eu fiz aí.

Peraí, bicho.

Foram exatos 10 minutos de notícias, e TRINTA SOBRE COPA DO CATAR.
Camarada: Casimiro já tinha dito tudo. Outros centenas de programas de esportes. 

Sobre transição, nada. Sobre Tarcísio colocar Guedes como secretário da fazenda em São Paulo, nada. Sobre aumento de Covid, nada. Sobre o pau quebrando na Zona Oeste e no Jardim América, tráfico, milícia, PM, nada. A gente acaba se informando por outros meios.

E o jornal que poderia, e deveria, usar os minutos pra isso, porque inclusive teve um papel importantíssimo nas eleições, e teve MESMO, me fala friamente uma enchente, uma visita dos gringo ao Lula, um evento nerd em SP. 

E soca Copa.
É insuportável. E no fundo, um desperdício de tanto jornalista bom ali. 

O minuto de propaganda no JN é um dos mais caros do Universo. Que isso explique, eu entendo. Mas a redação tem que se impor.

Tudo tem a ver com a credibilidade do jornalismo. E ontem, rolou um apagão.

Jornalismo tem pra caramba nos blogs, nas redes sociais, no Youtube.
Eu só espero que hoje, o JN volte pro eixo e faça o que sabe fazer. 

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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