Não sejamos amantes
Leitura: 3 minO pessoal adora falar mal de não monogamia e eu sei que parece que essa forma de se relacionar passa a ideia de que achou a solução pra tudo, levou todos os sistemas abaixo e agora fica de recalque só criticando. Mas cara, é que vocês mesmos não cumprem os acordos da própria parada que cês tanto defendem e acreditam. Vocês dizem: “jamais conseguiria ser não monogâmico”, mas traem o tempo todo. Vocês estão imersos numa ideia de que amar é possuir e restringir desejo e não enxergam como a gente aprende a amar e a se relacionar de forma errada desde cedo. A monogamia do vigiar e punir, mas que só pune as mulheres, tá aí inserida desde sempre e percorre a distância desde o relacionamento de nossos antepassados até os dias de hoje, com as novas gerações. Tá presente nas músicas, nos filmes, na cultura em geral e nos relacionamentos das pessoas à nossa volta, acabando por ajudar a moldar a maneira como nos vemos e nos relacionamos.
Os monogâmicos que me desculpem, mas eu fico um pouco assustada quando vejo hoje gente cada vez mais jovem entrando em relações tradicionais e monogâmicas, casando de véu e grinalda na igreja, e afirmando ter encontrado o “amor de sua vida” aos 19/20 anos. Gente que só transou com uma pessoa na vida. Que nunca se amou, mas afirma estar amando outro, incondicionalmente, achando que amar é possuir, proibir, vigiar, vasculhar celular. Mulheres e meninas brigando entre si por causa de homem, numa eterna vigília de ver mulheres como inimigas, urubus e usurpadoras do namorado de outras, além de toda uma cultura misógina que coloca certas mulheres em certos lugares, enquanto homens seguem INTACTOS, se desculpando por terem traído e sendo “perdoados”. E no fim das contas, sempre continuando a fazer o que querem.
Aí lembrei do tempo em que eu era amante e acreditava no conto de fadas de que um dia a pessoa largaria o relacionamento e passaria a me amar. Eu era amante porque não tinha mais nada, e ser amante foi, durante uma época da minha vida, a única forma de se relacionar mais próxima de afeto que tive. Porque eu era diferente, eu fazia tudo o que elas não faziam, eu era tão livre… e sequer me amava. RISOS CHOROS Pra depois sair sempre como errada, perder amigas, ser odiada por mulheres, continuar me odiando e os homens saírem ILESOS como uns coitados seduzidos pela figura vil da mulher amante.
Então, assim, tem que viralizar é vídeo de homem sendo exposto como agressor, como abusador, como estuprador, como manipulador, sabe? Chega desse espetáculo de viralizar mulher pegando homi no flagra. Chega de odiar amante. Chega de odiar mulher. Odeiem esses tipos de homens e esse sistema que nos ensina a amar desse jeito, a procurar a validação masculina e que beneficia tanto esses homens. Denunciem esses homens. Não amem esses homens, não sejam amantes. Amem a vocês mesmas antes de tudo pra saberem bem o que merecem e que não tem nada a ver com o que esses homens oferecem.