Pastores que surram esposas – Violência doméstica evangélica

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40% das mulheres vítimas de violência doméstica se declaram evangélicas, segundo Valéria Vilhena, pesquisadora no curso de doutorado na Mackenzie, SP.

Conhecido como pastor Nilton, de uma igreja em Ribeirão das Neves, homem é visto em vídeo espancando a esposa: “vai ficar banguela”.

A pesquisa feita pela pesquisadora do curso de doutorado da Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo foi feito em 2018, e é muito provável que de lá pra cá os números não tenham melhorado. Até porque nada foi feito em termos de políticas públicas pra isso. Pra você ter ideia, o número de feminicídios vem crescendo desde 2017.

Em 2020, o número foi 1,9% maior que em 2019. E em 2019, houve um aumento de 35%, refletindo o que ocorreu no primeiro ano de Bolsonaro, ano em que Nilton agrediu a mulher.

Não há políticas nacionais de combate efetivo e conscientização de homens sobre a violência contra a mulher. Bolsonaro é um dos maiores referenciais da violência de gênero, pois passou a vida inteira incentivando o desprezo ao “viado, a sapatão”, e chamando Preta Gil, por exemplo, de “promíscua”.

O discurso dele é em resumo baseado em violência de gênero.

Igrejas evangélicas são alinhadas com o poder.

No Brasil, nas periferias, subúrbios e cidades pequenas, o pastor exerce muito controle na vida das pessoas que ele guia na igreja. Um pastor agredir a esposa, dentro do contexto evangélico, é normalizado. Homens crentes dão surra nas esposas, nas filhas. A igreja é um lugar de violência de gênero. E as mulheres neste contexto sofrem caladas, pois estão submissas ao pensamento de “mulher virtuosa”, a mulher que não reclama de nada, nem do marido, nem das violências. É preciso considerar que a igreja evangélica é principalmente um lugar de violência de gênero.

A esposa deste dito pastor Nilton denunciou o marido e ele foi preso pela Lei Maria da Penha. Solto, voltou para casa e gravou outro video onde dizia ter se arrependido e mudado.

Tanto ele quanto a esposa denunciaram as pessoas que repostaram o video da violência contra ela (o que, de fato, é outra violência), e eu espero de verdade que ele não volte a agredi-la. Eu poderia desejar que eles não estivessem juntos. Mas o limite do meu discurso é a decisão individual.

Fato, se a igreja causa todos esses dramas fora, oprimindo a sociedade, muito mais dentro das famílias, adoecendo mulheres e crianças.

O Nilton e milhares de pastores exercem muito poder. Eu cresci em igreja e sei como a ordem de um pastor impacta dezenas de vidas. Num país com líderes que não combatem a violência de gênero e não há qualquer fiscalização sobre essas diárias violências nas igrejas, seguimos com agressões que em algum momento podem engrossar estatísticas.

Anderson França

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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