Ter a “doença” da moda não torna a dor menor

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Estresse e ansiedade: duas constantes na vida de quase todo mundo ultimamente. Isso inclui, a minha vida, óbvio. Noites sem dormir, unhas roídas, olheiras, batimentos cardíacos acelerados. A gente tem mania de achar que vai passar (ah, tudo passa, né?), de que vai ficar tudo bem (porque, afinal de contas, as coisas sempre se ajeitam, né?)… Aí, “do nada”, você se vê com a “doença” da moda.

Tava saindo de casa sábado à tarde com Tiago e ele falou: “amor, teus cabelos tão a cair, já viste?” Pegou o celular e tirou uma foto pra me mostrar. Um buraco no meio da cabeça sem cabelo nenhum. Lembrei de quando minha mãe teve. Lembrei que Will Smith tá sendo cancelado porque alguém debochou da mulher dele, que também tem. Alopecia areata, é o nome.

Aí, mermão: bateu uma tristeza. Juro! Né drama, não. É uma sensação de bosta mesmo, sabe? Eu sei que, de alguma forma, você sabe. Porque todo mundo sabe o que é aquela sensação de impotência que te corrói inteira(o) por dentro. Uma merda. Pode não ser por uma alopecia, mas todo mundo sabe.

Daí eu fiquei triste pra um caralho. Me dei conta de que um dia antes tinha dito sobre o quanto meu cabelo tava caindo nesses dias… Meninice? Que seja, mas eu amo a porra do meu cabelo bem grande. E eu amo a Lídia carequinha também. E eu amo o afro das nossas blacks também. E amo os cachinhos da Juju e o cabelo rosa da Flu. E o liso curtinho da Nath. E o raspadinho do Anderson. Porque foda-se como você gosta de usar o teu cabelo, desde que você possa usá-lo como queira, como goste, como lhe dê na telha, saca? E, nesse momento, eu gosto desse cabelo gigante que eu tenho com mechas azuis desbotadas que, agora, ganhou um buraco bem no meio.

Tem um monte de doenças que limitam as pessoas a serem e fazerem coisas que elas não gostam, não querem, não sonham. E o que é perder um pouco de cabelo perto de tantas outras restrições tão piores que já vi muita gente enfrentar? Mas tô nem aí. Essa é a minha dor agora. E eu não tô aqui competindo qual dor dói mais.

E, por mais que existam Chris Rocks pra fazer piada com a condição das pessoas, também existem muitos Tiagos pra acolher e dizer que tá tudo bem. Aliás, existem Tiagos e Lídias e Majôs e Jujus e Nannys e Suellens numa medida muito maior, pelo menos na minha vida, amém. Mas digo de Tiago, porque eu sei que o mundo tem muito homi escroto (leiam a Lídia que ela tem coleção de histórias publicadas sobre isso) que vai dizer: “porra, mas vai ficar careca agora?”; “Ah, se ficar careca, não quero mais, não te conheci assim!” Existem muitos. Não é o caso do meu. E você vai dizer que ele não faz mais que obrigação. Mas aí: o tanto de acolhimento que falta em família, em relacionamentos, entre amigos, talvez seja sim algo do qual se orgulhar. E é bem provável que seja também por isso que estejamos juntos. Foi Tiago quem insistiu pra que eu fosse num médico, particular memo, porque o público ia demorar; e foi ao médico comigo, inclusive. E não me tratou como estranha em nenhum momento. E disse que eu vou continuar sendo a mina dele, mesmo que eu fique carequinha. Tá ligado? Acolhimento é isso. Eu já tô triste. Não preciso de ninguém me deixando pior ou agindo com indiferença à minha dor.

Então, queridos, queridas, querides: cês podem criticar Will, mas sejam ele no que diz respeito a acolhimento. Sejam Tiago no que diz respeito a acolhimento.

E aprendam coisas importantes: se cuidar é fundamental; não naturalizem estresse, ansiedade, depressão, baixa autoestima, whatever; se afaste de quem não se importa com a sua dor; saiba que você tem o direito de sentir sua dor, seja ela qual for; e se ame, independente da sua dor, da sua restrição, do seu medo. Se as coisas não se ajeitarem, busque ajuda: você não precisa encarar tudo sozinha(o) sempre.

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