Um dia eu vou ficar branco?

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Se você soubesse o quanto dói ouvir isso, você ia, ao menos, pensar duas vezes antes de chamar debate racista de mimimi. Você ia, quem sabe, cogitar não dizer que Halle Bailey de sereia estragou sua infância. Mas isso é querer demais de você, né? É exigir muito.

Porque você, não contente em ser um grande racista, faz questão de transmitir seus valores tirados do esgoto do mundo para os seus filhos. E daí, os seus filhos, tão brancos quanto você (e não tô aqui falando de cor de pele, mas de atitude de branco), se sentem no direito de ir pra escola dizer pro “coleguinha” que ele parece um cocô porque é “marrom”.

E não só: vocês ainda usam de todos os espaços de poder possíveis e imagináveis pra reforçarem a sua imagem de brancos. E fazem isso colocando crianças pra fazer um desfile cívico em que “imitam” escravos. Presos às correntes da escravidão, sendo arrastados pela avenida. Chamam de mergulho na história do Brasil.


Se vocês realmente quisessem mergulhar na história desse país, se envergonhariam de como essa história foi construída à base de sangue negro. Se envergonhariam de sua religião, de seus ancestrais. Teriam vergonha de, um dia, terem demonizado negros e negras. Terem estuprado e matado como se fossem bichos.

E se isso tivesse acontecido, não teríamos mães tendo que lidar com a dor do filho de cinco anos sendo chamado de cocô. Não teríamos pretos sendo mortos por serem “confundidos” com bandidos. Não haveria draminha de infância estragada por personagem de desenho animado negro. Ninguém acharia normal colocar crianças pra desfilarem como escravos.

Só que vocês só estão preocupados em continuarem na sua zona de conforto. E a gente que lute.

O que você não sabe, é que a gente tá lutando tanto que vai chegar a hora em que ninguém mais vai fazer isso com nenhum de nós. Vocês não estão preparados pra isso. Mas esse dia vai chegar.

* A referência do título diz respeito à denúncia da estilista Claudete Alphonsus, cujo filho perguntou se ia ficar branco algum dia, porque não aguenta mais os “amiguinhos” dizendo que ele parece cocô.

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