31 travestis e transexuais são resgatadas de trabalho escravo

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Na semana em que contratamos uma estagiária travesti não binária que disse na entrevista do quanto estava feliz por ser difícil ter uma oportunidade de trabalho, do quanto tem medo todos os dias, de como sua expectativa de vida é de apenas 30 anos, uma operação policial resgatou 31 travestis e transexuais escravas de um grupo criminoso que as prostitui em Uberlândia e Criciúma.

As vítimas iam espontaneamente para o trabalho com promessas de transformação de corpo e implantes de silicone, por exemplo, e depois eram feitas escravas: ameaçadas, agredidas, envolvidas em fraudes, presas às dívidas contraídas para a tal transformação.

A ação envolveu uma força-tarefa que passou pelo Ministério Público, Gaeco, Defensoria Pública, Polícia Militar e Polícia Federal nos estados de Minas Gerais e Santa Catarina.

De acordo com a investigação, elas não tinham autonomia para se prostituir e era exploradas por duas organizações criminosas parcerias, que as obrigavam a permanecer no trabalho por conta de supostas dívidas que eram contraídas numa espécie de “financiamento de procedimentos estéticos”. O mais caro, era a implantação de silicone nos seios, colocado, na maioria das vezes, em situações precárias. Além disso, usavam silicone industrial para alterar outras partes do corpo, o que é um grande risco à vida da vítima.

Tudo isso, seria desnecessário se as políticas públicas, de saúde pública, não existissem só na teoria e elas pudessem e elas pudessem passar pro procedimentos de readequação sexual no SUS. Destaco: o SUS tem essa cobertura. Que não acontece ainda na prática de maneira acessível e tranquila.

O fato é que tudo lhes trazia dívida: eram obrigadas a ficar alojadas em uma pensão por um valor diário; para trabalhar, tinham que pagar a diária, mesmo que não utilizassem a estrutura; eram aplicadas multas por tudo, inclusive, por chegar fora do horário; quanto mais elas ganhavam com o programa, maior era o valor das taxas e multas.

Segundo investigadores, as práticas eram tão abusivas que elas pagavam para trabalhar em troca de teto e comida. Circulavam entre elas, histórias que causavam medo. A principal delas, era de uma pessoa que descumpriu regras e teve os silicones retirados sem anestesia. Em inúmeras situações, quando se recusavam a fazer algo, eram espancadas até quase morrerem. Na lista de cobrança, entram também itens como lingeries, perucas, perfumes e maquiagem.

Calcula-se que as organizações devam às vítimas cerca de 3,7 milhões de reais.

Uma das pessoas apontadas pelo Gaeco como líderes da organização criminosa de exploração à travestis e mulheres trans, é a ex-vereadora de Uberlândia, Pâmela Volpi. Por uma tentativa de homicídio a uma travesti, ela está presa desde novembro passado. Nessa investigação , porém, vários endereços visitados pela operação estavam em seu nome.

Eu só te pergunto: até quando? Até quando seres humanos vão ser escravizados? Até quando corpos vão ser tratados como descartáveis? Até quando travestis e trans vão ter medo de morrer o tempo todo? Até quando vão se sujeitar a isso em busca de qualidade de vida?

Até quando?

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