Burger King quer engordar você, mas as empregadas precisam ser “padrão”

Leitura: 2 min

Na semana do Dia Internacional da Mulher, a rede de fast food Burger King foi condenada a pagar indenização por danos morais à uma empregada que foi afastada de suas funções de gerência por ser muito “gorda e feia” para o cargo.

O ano é 2022, mas as mulheres ainda são submetidas à análise de seus corpos e aparência como condição de empregabilidade.

A essa altura do campeonato, ainda é necessário que uma trabalhadora seja exposta a um Tribunal para garantir seu direito constitucional ao trabalho e dignidade. (Art. 1, III e 6 da CF)

Você sabe como se comprova esse tipo de questão em uma audiência trabalhista? Eu te explico.

Depois de perder o emprego por ser “gorda e feia”, a empregada precisou comprovar que sofreu o dano.

Como comprova? Prova testemunhal, meu amigo, porque ninguém formaliza que demitiu uma empregada por ser gorda e feia, né?!

Aí fico imaginando a audiência:

Reclamante (a demitida): sentada na mesa de audiência de uma sala cheia de estagiários, outros advogados e outras pessoas aleatórias.

Juiz: A senhora pode me dizer porque a reclamante foi destituída do cargo de gerente?

Testemunha: Porque o chefe disse que ela é gorda e feia e que não servia para o cargo. Que pra esse cargo tem que ser arrumada e apresentável.

         *

A humilhação pra mulher vítima de assédio, violência sexual ou dano moral nunca vem de uma vez só.

Toda vez que a história é recontada a humilhação acontece novamente. Sempre é a mulher que precisa comprovar que sofreu a violência e reviver aquela história mil vezes, até que alguém acredite na sua versão.

No final, no caso do Burger King, a violência saiu muito barato. Uma condenação de cerca R$ 8.000,00 pelo dano moral e não se fala mais nisso.

Que judiciário é esse? Que país é esse? Que porcaria de sociedade é essa que a gente construiu até aqui?

Parece que a rede de junk food acredita que sua comida pode provocar infarto em metade da população mundial, mas seus empregados só podem comer no Mundo Verde.

O ano é 2022, mas parece que a gente ainda tá preso no século XIX!

​​É uma profissional apaixonada pelas pessoas, pela Democracia e pelo Direito. Além do exercício de advocacia, é professora e mestranda em Direito pela UERJ. Pós-graduada pela FMU/SP e possui MBA em Gestão de pessoas.

somos a primeira voz
que você ouve pela manhã.
a última com você na cama.

Siga a CT