Gravidez tardia e o controle de corpos
Leitura: 2 minEntão, a notícia da semana no mundo dos famosos foi a gravidez tardia da atriz Claudia Raia, aos 55 anos.
As reportagens foram inúmeras, com indagações sobre qual método teria sido utilizado pela atriz, se era seguro engravidar nessa idade e sobre a surpresa de saber que é possível engravidar na menopausa. Houve muitas preocupações com a saúde da gestante, como que para evitar dar falsas esperanças a mulheres de meia idade que desejem seguir o exemplo. Os argumentos principais eram os etaristas “velha demais pra ser mãe” e “os riscos da gravidez tardia”. Ok, sabemos das dificuldades. Mas sabemos também que gravidez é um estado difícil em muitos casos, independente da idade. E isso nunca impediu ninguém de ter filhos.
Por outro lado, se pararmos pra pensar nas pessoas que engravidam mais cedo, na casa dos vinte anos, elas também ouvem coisas como “vai perder a vida”, “nova demais pra ser mãe”, fora as questões sobre aborto e adoção, enquanto homens seguem sendo pais até num sei que idade, assim como o próprio ex-marido de Cláudia Raia, Edson Celulari, que foi pai aos 63 anos. E esses mesmos homens seguem tomando decisões sobre os nossos corpos pelo congresso, pela câmara, pelas leis desse Estado que finge ser laico a fim de manter suas estruturas misóginas. Logo, a gente percebe que não é sobre preocupação com as mulheres. É sobre controle. Interessa e sempre interessou muito à sociedade controlar nossos corpos. Desigualdade de gênero é sobre poder. E eles não suportam a ideia de perceber que está cada vez mais fácil para pessoas com útero terem filhos sem o falo deles, e que nós precisamos cada vez menos deles em nossas vidas, porque sem seus falos, eles se sentem inúteis.
Gravidez tardia é difícil? E também é tabu. Precisamos falar disso, e de menopausa, e de endometriose, e de sexualidade na velhice e de muitas outras coisas. O saber sobre nossos corpos é essencial para nossa emancipação e autonomia nesse sistema falocêntrico e misógino em que vivemos. O maior poder que temos é o de conhecer nossos direitos, inclusive o de existir, permanecer viva e fazer o que quisermos.