A uber ama pobre
Leitura: 3 minVazamento de dados internos da Uber relata que a empresa age de modo articulado para a precarização da vida do trabalhador e para lucrar cada vez mais em cima da exploração da mão de obra de pessoas pobres. A notícia foi divulgada pelo jornal britânico The Guardian, com o apoio de diversos outros veículos de comunicação e imprensa. Os mesmos tiveram acesso a mais de 124 mil documentos secretos da Uber que confirmam o modo operante da empresa.
Devemos lembrar do caos que foi gerado no Brasil e em outros países quando houve o surgimento do aplicativo de corrida. No caso do Brasil, em 2014, a entrada da empresa no mercado de carona não se deu de forma pacífica: eram recorrentes brigas e desavenças físicas entre taxistas e motoristas da uber. A denúncia relata que todo o cenário vivido foi incentivado pela própria empresa, pois acreditavam que a partir dele facilitaria a fragilização das leis para sua inserção no ramo.
A uberização do trabalho e da vida é apenas mais um dos desdobramentos do neoliberalismo aqui no país, a lógica do empreendedorismo faz as pessoas caírem na falácia de que ficarão ricas sendo seus próprios chefes. Porém, ninguém mostra o outro lado da moeda: a pessoa ser sua própria “chefe”, retira do Estado e da constituição trabalhista a responsabilidade de regular as condições a que os trabalhadores estão sujeitados.
Em março deste ano, o Uber Eats parou de funcionar, logo após a sanção da lei que obriga as empresas de aplicativos a se responsabilizarem em caso de acidente e/ou doença. Temos ainda em trâmite o PL 103/2021 que está parado na câmara de deputados. Esse PL tem por finalidade dar alguma seguridade aos entregadores de aplicativos, a partir de condições básicas de trabalho e de existência.
Não é justo, não é normal uma pessoa ter que trabalhar 12 horas por dia pra conseguir sobreviver. Não é viver, isso não é vida, é apenas desespero por sobrevivência. E se a gente for parar pra analisar qual é o perfil daquelas pessoas que estão nessa posição, geralmente são pessoas negras e homens – segundo levantamento da Universidade Federal da Bahia. Então, por quase 400 anos de escravização do corpo preto, a sociedade instiga a normalização de toda a violência enfrentada e vivida por esse grupo.
Ainda mais com a situação que temos hoje, sabe!? O Brasil está de novo no mapa da fome e as pessoas não têm o que comer! As pessoas não têm onde morar! O salário mínimo que recebemos não é o suficiente pra comprar nem uma cesta básica decente. Estamos vivendo tempos de calamidade social e política. E quem é sempre o alvo de todas as precarizações que temos no país é o povo preto, os povos indígenas, são as mulheres, são as minorias sociais.
Eu fico imaginando como deve ser foda você estar trabalhando entregando comida, sendo que você não tem nem o que comer dentro de casa. Você trabalhar com fome, com sede, de baixo de sol e chuva, percorrer de 5 a 10km pra entregar um hambúrguer pra um playba da zona sul e receber menos do que R$ 10,00 pela corrida.
A Uber é apenas um codinome para todas as outras empresas que se apropriam da força de trabalho de pessoas pobres e, em muitos dos casos, desempregadas. Esses aplicativos servem a quem? Aos entregadores, aos restaurantes, aos clientes ou é apenas mais um desdobramento da estrutura colonial e escravista no século XXI?