“Chamei mesmo. Assumo. TENHO DOUTORADO”.

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Foto: Claudio Brites

“Chamei mesmo. Assumo.

TENHO DOUTORADO”.

Uma mulher branca, professora, e como ela fez questão de frisar, muitíssimo qualificada, proferiu agressões racistas contra uma mulher negra que trabalha num restaurante no Maracanã, Rio de Janeiro.

Que lições tiramos deste episódio: Mulheres brancas oprimem ao lado de seus machos brancos.

O feminismo de uma mulher branca não garante a vida de uma mulher negra.

Feminismo não é o mesmo que antirracismo. Mulheres podem obter direitos, mas mulheres negras continuarão sendo negras, e, portanto, oprimidas por mulheres brancas.

Cor de pele definiu que uma teria doutorado, e a outra serviria sua mesa.

Mulheres brancas tem privilégios.

Mulheres brancas negam seus privilégios, se ocultando nos sistemas de dominação.

Doutorado não garante que o portador seja gente.

A educação tende a perpetuar os valores eurocentrados de consagração da superioridade branca.

Mulher branca ocupar lugares que antes eram apenas de homens, como a academia, não significa nada para uma mulher negra.

E ser professor não é salvo conduto.

Enquanto pessoas brancas não forem seriamente responsabilizadas na sua vida, liberdade e patrimônio, elas nunca vão parar de humilhar pessoas negras. Seja polícia que enquadra vereadora negra, seja polícia que bate na cara de jovem negro, aponta a arma se você anda de bicicleta, mulher branca que agride mulher negra.

Brancos precisam sentir prejuízos.

A luta deve ser a de conquistar poder para o povo negro.

Porque um poder só respeita outro poder.

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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