Comer também é político
Leitura: 2 minDe acordo com o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, 33,1 milhões de brasileiros, o equivalente a 15,5% da população, estão passando fome no Brasil atualmente. Comparado à pesquisa realizada em 2020, houve um aumento de 14 milhões de pessoas, ou seja, em menos de dois anos, o número praticamente dobrou.
Diante disso, entrevistamos a nutricionista Thalita Vicente, que é formada pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e mestranda em Ciências da Nutrição pela mesma universidade, para saber os impactos que a fome pode causar na saúde dos brasileiros. Segundo ela, “uma má alimentação ou a falta de alimentação equilibrada e saudável traz diversos prejuízos, principalmente doenças crônicas não transmissíveis”, por exemplo, diabetes, hipertensão, entre outros. Isso é referente à saúde da população de forma mais ampla.
Ao tratar de crianças, esse tema ainda é mais delicado, visto que pode interferir no desenvolvimento cognitivo, ter o sistema imunológico prejudicado, entre outras coisas. De acordo com o guia alimentar para a população brasileira, o indivíduo precisa fazer ao menos três refeições por dia(café da manhã, almoço e jantar). Sendo assim, Thalita aponta que, atualmente, devido à fome, as pessoas, principalmente crianças, estão se alimentando de restos de alimentos e comida ultraprocessadas, que são ricas em sódio, açúcar, gorduras, além de extremamente calóricos, isso afeta não apenas no desenvolvimento cognitivo, como também pode acarretar nas doenças crônicas não transmissíveis.
Segundo a nutricionista, “não há apenas uma má nutrição (excesso de peso, obesidade), como também uma desnutrição, que era um problema que não havia há um tempo, pois o Brasil saiu do Mapa da Fome em 2014. Havia um incentivo à Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que impacta diretamente na saúde das crianças. Então, quando há uma falta de estímulo a esses programas, o sucateamento dos principais programas, ficamos extremamente desestruturados”.
Há diversos problemas em um único contexto. A pandemia não é o principal fator da fome, mas, sim, um agravante. A alimentação afeta diretamente na qualidade de vida dos indivíduos e o que estamos presenciando atualmente é apenas a ponta do problema. Somente o auxílio às famílias de baixa renda não é o suficiente, pois também é necessário um investimento alimentar e nutricional, além de aplicar capital em programas alimentares.