Descartáveis

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No dia 15 de maio de 2022, Yuri de Souza Fontes, de 24 anos, trabalhava como entregador de aplicativo pelo iFood, quando se acidentou e acabou vindo a óbito. Os debates sobre a precariedade do sistema de entrega por aplicativo, que não garante nenhum direito trabalhista essencial na vida do trabalhador e de sua família, vem crescendo nos últimos tempos de forma exponencial.

Após Yago e Luciana, irmãos da vítima [do sistema] terem ciência do ocorrido, foram de imediato para o local do acidente e tiraram foto do último lanche que seria entregue pelo motoboy, um pedido de R$ 66. Esse é o valor de uma vida uberizada. Temos hoje, no século XXI e na contemporaneidade, uma nova faceta da escravidão. Se trata de uma categoria da classe trabalhadora complemteamente descartável e com pouca segurança.

Cerca de um mês antes do acidente, a empresa iFood havia divulgado quatro novas coberturas para “parceiros” – como a empresa gosta de chamar seus entregadores. As coberturas para acidentes, morte, invalidez e lesão temporária foram somadas a uma proteção especial para mulheres, cobertura para educação de filhos de entregadores e, em caso de acidente, suporte com um programa de recomeço para famílias de vítimas e o auxílio-funeral de R$ 5 mil.

A família de Yuri relatou ter conseguido a tempo contato com a empresa para receber o auxílio-funeral, já que o auxílio vida havia sido negado pela empresa. Em nota a companhia relata que o entregador estava cometendo fraude ao usar um CPF que não lhe condiz, no caso, o de sua namorada. Contudo, a família em defesa, aponta que o rapaz, assim como outros entregadores, precisava ter duas contas ativas para não deixar de trabalhar caso uma delas venha a ser bloqueada pela empresa. Era uma forma de manter a garantia da fonte de trabalho. O iFood, inclusive, já foi condenado na justiça por banir um entregador sem apresentar justificativa.

Após a família tentar regularizar a situação do ente na plataforma, recebeu o fecho da empresa: ‘Oi Yuri, tudo bem por aí?’, dizia a mensagem do @ifoodbrasil para o entregador, avisando que sua conta seria suspensa por ‘má conduta’. Máxima falta de respeito, empatia, solidariedade, além de ainda fazerem uso de uma propaganda enganosa para aliciar pessoas em condições de vulnerabilidade socioeconômica.

Uma travesti não-binária, preta, bissexual, ativista e estudante carioca. Escrevo pra libertar o grito entalado na garganta e pra curar feridas que não são somente minhas.

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