Empoderamento & Endividamento
Leitura: 2 minNos últimos tempos, principalmente depois do início da pandemia, temos observado um boom no comércio de produtos eróticos. Só que agora a coisa tá tão saturada que as lojas e marcas passaram a investir em serviços mais completos, voltados para educação sexual, como consultoria com sexólogos, ginecologistas, vendas personalizadas, publicações, imersões e cursos.
Tenho então acompanhado a chegada, aos poucos, da marca Lelo nas sex shops brasileiras. Resumindo, a Lelo é uma marca de produtos eróticos de luxo, fundada em 2003, em Estocolmo, na Suécia, que anda chegando discretamente nas lojas daqui a preços astronômicos demais para o Brasil da fila do osso.
Eu acredito, no meu trabalho, que o principal ponto da educação sexual é fazer com que as pessoas se conheçam, se amem, se descubram e tenham acesso a diversas ferramentas para tal. E esse consumo de produtos eróticos é parte disso. E olha, eu até sou uma pessoa que investiu bastante em produtos eróticos na pandemia, mas sem condições de comprar vibrador de mil reais. É difícil pra dedéu. Aí a gente compra brinquedo genérico e o povo fala que silicone jelly é cancerígeno, mas cara, se é só esse que eu posso pagar, ME DÁ LICENÇA, VIU?
Eu não tenho como pagar num vibrador o mesmo que pago de aluguel. É lindo, é cheio de prêmio de design, é vendido mundialmente e tem muita qualidade, mas tá muito caro, desculpa te dizer.
Se parte do empoderamento é também fornecer caminhos para a nossa autonomia, vocês não podem esperar que eu me endivide pra conseguir me empoderar. É preciso pensar numa educação sexual, num consumo voltado pra educação sexual que nos seja mais acessível e voltado para a realidade do Brasil.
Isso, claro, se você estiver mais preocupado com o alcance do seu produto e serviço do que com o lucro que ele lhe proporciona.
Eu quero alcançar mais pessoas e ajudar mais pessoas nesse caminho da autonomia do corpo, do dinheiro, de si mesmo e, principalmente, do próprio prazer.
Mas talvez eu esteja sendo um pouco otimista e ingênua. Ou talvez eu só seja pobre e ganhe pouco.
Eu só quero que todo mundo se ame e goze tanto quanto eu. Será que é pedir muito?