Pretas com saúde mental

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Eai, pretinhas, precisamos falar de algo sério: saúde mental. Parece até piada querer debater saúde mental num país que quer nos exterminar todos os dias, mas cuidar da nossa saúde mental é autocuidado, é revolucionário e é uma forma de resistência. 

Crescemos sendo podadas de ser e existir dentro das nossas particularidades. A mulheridade que me atravesssa não é a mesma que atravessa mulheres cis, mas nós lutamos pelo mesmo propósito: o fim do patriarcado, nosso verdadeiro inimigo. O cuidado pra nós sempre foi colocado no lugar de servir ao outro, mas o gesto de autoamor é muito necessário, principalmente no contexto onde os nossos direitos são cassados no mundo.

O nosso buraco é mais embaixo: nosso empoderamento feminista parte de outro princípio, e é desse lugar que eu me refiro. Nós devemos colocar a nossa vida em primeiro plano [o que é muito difícil, no início], devemos parar e pensar sobre o que queremos, para onde queremos ir e o que queremos fazer. Mana, tô aqui pra te falar que descanso e cuidado não é luxo, é necessário! Vivemos tão atoladas de afazeres que esquecemos de nós mesmas.. é tempo de reservar 5 minutos que sejam para ti, você merece, nós merecemos.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), existem cerca de 11 milhões de mães solo no país. Essas mães acordam todos os dias pra trabalhar o dia inteiro e levar comida pro prato dos seus filhos… Como levar saúde mental para essas mulheres? A preocupação delas são outras! Não estou aqui para ditar regras, mas para lembrar que a saúde mental dessas mulheres, mães, negras e majoritariamente periféricas precisam ser levadas em consideração ao tema de debate.

Pois, ao pensar no sustento de seus filhos, elas ainda têm o peso do racismo que pode ceifar a vida dos seus. Quando se trata de mulheres trans e travestis, esse assunto é também muito delicado, pois a maioria das minhas não sabe sequer o que é saúde mental. A nossa luta é no hoje e no agora; a nossa projeção de futuro é interrompida pela violência precoce. Vamos buscar ou criar nossas próprias redes de afeto para, juntas, darmos esse passo em direção a um futuro próspero. 

Existem atualmente algumas redes de acolhimento à saúde de mulheres negras, deixo aqui a minha recomendação: @terapretas, @psicologiaemdiaspora, @trocas.psi e existem muitas psicólogas negras à disposição. Vamos fomentar essa rede de acolhimento e de autoamor. Sempre foi nós por nós; agora não seria diferente. Vamos juntas! 

Uma travesti não-binária, preta, bissexual, ativista e estudante carioca. Escrevo pra libertar o grito entalado na garganta e pra curar feridas que não são somente minhas.

somos a primeira voz
que você ouve pela manhã.
a última com você na cama.

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