Estado Laico e Estado Lacaio

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Quando a educação não é libertadora, o sonho do Estado Laico é ser Estado Lacaio. 

E o Estado se torna Lacaio todas as vezes que entrega seus poderes aos religiosos. 

O Brasil, desde 2002, vem sofrendo um ataque pesado de religiosos evangélicos, que ocuparam espaços, obtiveram influência, manipularam agentes públicos baseados em discurso moral, pautas de costumes, fé e curral de votos fáceis.

Seja um pastor no Mato Grosso que controla uma rede de igrejas com 40 mil pessoas, o que com certeza elege um deputado federal e ainda desempata uma eleição pra governador, seja um pastor no Rio ou São Paulo que controlam rede própria de igrejas, rádio, TV, internet, música, e que alcança MILHÕES de pessoas em grandes cidades, PRATICAMENTE ELIMINANDO diferenças de classe, de raça e de gênero, tornando todos apenas uma massa homogênea debaixo de uma única confissão de fé, em que todos obedecem, apenas, sem questionar, sem olhar pro lado, sem duvidar, pois a ordem pastoral é a ordem do próprio Deus. E o povo que aceita essa ordem, o faz porque não teve acesso a educação crítica. E isso não aconteceu, porque a destruição do povo brasileiro é um projeto. 

E a igreja evangélica é uma das principais ferramentas para essa destruição.

As pessoas são captadas na rua, cooptadas, abduzidas, de vidas difíceis, de existências sem respostas, ou de respostas muito complexas, que dependem do Estado, e entram na igreja, onde Deus pode te dar um carro, um emprego, até um marido. E até algumas pessoas aqui se interessaram por essa do marido, já que anda meio difícil arrumar um hétero decente. 

Mas te dou o spoiler: é tudo caô. 

Do endemoniado, ao casal feliz. Aliás, tem um menino que se oferece por 200 reais pra ser demônio nos cultos. Ele tem técnicas, inclusive. É ator. Zona Oeste do Rio, se não me engano, Realengo. 

Né nada, né nada, 

o pastor se torna dono de milhões de votos. 

O gabinete dele se torna um balcão de negócio. 

Duas coisas são as mais importantes para os pastores: o título de eleitor, o cartão do banco.

Pastores tem muito poder. 

Pastores tem muitas pessoas.

Ou seja, são as pessoas que políticos precisam.

Mega cabos eleitorais, de estrutura gigante, com tudo pronto, basta você acertar os honorários. 

Vai na igreja, entra no culto, sobe no palco, ajoelha, ora, recebe a benção, e antes de sair, deixa o pagamento em dinheiro vivo, em forma de oferta, que não é rastreável na Receita. 

Porque a parada é dinheiro vivo. 

Dinheiro vivo, para um Deus Vivo, numa democracia morta. 

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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