Eu não sou sexóloga!

Leitura: 4 min

Um negócio que eu já expliquei quando comecei a escrever na Coluna e que as pessoas parecem ter esquecido é que: EU NÃO SOU SEXÓLOGA!

Aí vim lembrar essa parada.

Eu vejo o povo falando que eu sou sexóloga, e pode até parecer, mas na real, essa não é minha área. 

A sexologia é a ciência que estuda a sexualidade humana, não só o ato sexual como todas as questões em volta disso e influenciadas por crenças, interesses, relacionamentos, políticas corporais, identidades e afins. Como diz a OMS, a sexualidade é “a integração de elementos somáticos, emocionais, intelectuais e sociais do ser sexual que, por meios que são positivamente enriquecedores, realçam as pessoas, a comunicação e o amor”. 

Pra ser sexóloga tem que ser formada em psicologia, e isso eu não sou. Eu sou é paciente da psicologia há 20 anos, isso sim. OU SEJE, entendo bem é de ser doida, como vocês bem amam me chamar. 

E justamente por ser doida é que eu me submeti a uma série de violências na minha vida e na minha vivência no que tange ao sexo e à sexualidade, mas depois eu fui reparando que até que eu nem era tão doida assim, que eu só tava dançando conforme a música que tinham me mostrado. E assim eu fui acreditando numa série de papéis que deveria cumprir, numa série de coisas que esperavam de mim e que eu devia ser, pensar e agir como tal. 

Enfim, a verdade é que eu sempre gostei de putaria. Sexo sempre foi algo que me interessou demais, e eu em algum momento da minha vida resolvi saber mais, ou melhor, tudo que podia saber sobre o tema. Então, no segundo grau, quando a galera tava lendo outras coisas, eu tava no recreio lendo sobre sexo tântrico, num livro aleatório que eu tinha comprado.

Então, a minha área mesmo é a da putaria. Eu me denomino PUTARIÓGRAFA AFETIVA, pois eu estudo e experiencio a putaria e os afetos; esse é meu campo de estudo, minha área de domínio, meu ofício, minha filosofia de vida. Eu sou aquela que tá sempre pensando naquilo: são 25 horas por dia pensando em sexo; é realmente algo que me interessa. Eu tenho uma cabeça que vê o sexo como um doce maravilhoso que você comeu e amou muito, e agora fica sempre pensando quando é que vai ser a próxima vez. RISOS

Isso não quer dizer que eu goste de ser tratada como um buraco ou como algo descartável, ou que eu veja o sexo como algo tão vazio, superficial e automático como as pessoas vêem, e é aí que entram os afetos: pra mim, é muito difícil separar uma coisa da outra, o afeto me afeta completamente, e isso também não significa que eu me apaixone a cada transa, mas que eu vejo o ato íntimo de gozar e fazer gozar também como uma forma de afeto, mas acho que cês ainda num tão preparados pra essa conversa. O pessoal (homi) confunde, né? Aí junta eu trabalhar com nudez, ser não monogâmica e ainda falar de sexo abertamente e PRONTO: a galera já acha que eu sou atriz pornô.

Sexo pra mim é uma das trocas mais maravilhosas que os seres humanos podem fazer. Aí vem os homi com os papo de “num quero nada sério” quando querem “só” sexo, quando na verdade o sexo é uma coisa SUPER SÉRIA por si só. Tem algo mais sério que gozar junto com alguém? Porque o sexo é também esse grande momento de mostrar-se vulnerável pro outro em seus prazeres, de gozar e fazer gozar, penetrar, lamber, sentir, trocar fluidos com alguém com um objetivo único de alcançar o pleno gozo. 

Então MINHA GENTE,

Deixa eu falar um negócio aqui. 

A verdade é que eu sou só uma pessoa. 

Mas a pessoa que eu fui sendo de acordo com o que a sociedade me impunha me fez viver um monte de merda e me submeter a um monte de coisa, em poucas palavras: eu fui é muito mal comida na vida e resolvi escrever e refletir sobre isso pra ajudar quem ainda tá sendo mal comido por aí e achando que é só isso o que merece ou que existe. E toda essa reflexão mudou a minha vida; então eu escrevo e reflito pra me ajudar também nessa grande roleta russa que é ser mulher e gostar de sexo. Porque essa posição de ser criada num mundo que valoriza o tempo todo amar e ser amada, conhecer alguém (um homi), casar e ter filhos faz mesmo com que a gente se submeta e se reduza a muita coisa. Apesar de hoje me entender como mulher cisgênero pansexual, eu fui criada na atmosfera hetero cis patriarcalista, como a grande maioria de nós.

E eu tô muito cansada de ver mulher aceitando qualquer coisa pra agradar homi ou porque não sabe que tem direito de ser quem é, de se voltar pro seu prazer, pra conhecer seu próprio corpo. Eu tô cansada de ver gente sem saber que merece mais. E eu vivi muito tempo assim, sendo castrada, tendo relacionamentos abusivos e achando que essas eram as minhas únicas opções de amar e ser amada, minha única chance de felicidade nessa vida.

CRUZ CREDO NÉ 

Então, sabe, se só uma mulher que me lê, entender que merece mais e que seu prazer é um direito… eu já tô realizada. É só por isso que escrevo. Eu escrevo o que eu gostaria de ter lido, o que eu gostaria que tivessem me dito.

Eu só quero que as pessoas se amem e saibam o que elas merecem. E todo mundo merece gozar.

Nascemos como uma revista e uma página nas redes. Alcançamos hoje mais de dois milhões de pessoas por mês com revista, site, redes sociais, youtube e rádio. Falamos com brasileiros no mundo todo. Seu apoio é que faz tudo isso acontecer!

somos a primeira voz
que você ouve pela manhã.
a última com você na cama.

Siga a CT