Foda-se a Copa

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A FIFA, onde pisa, promove desgraça.
Não, não tenho nada contra o futebol. Futebol arte, futebol  ginga, maroto, de várzea, futebol feminino com jogadoras portadoras de uma coisa que o masculino não tem – caráter. Nada contra. Embora não seja fã. 

O problema é uma Copa no meio de um mundo em crise. Guerra, pandemia, desemprego, falta de energia, gás, comida, crise migratória, crise climática, avanço da extrema direita. Isso, no mundo. No Qatar, sede da Copa, é gentrificação, escravidão, mortes nos canteiros de obras, repressão policial, homofobia, corrupção.

E dentro de campo, 26 jogadores, em sua maioria de extrema direita, evangélicos, bolsonaristas. Que vão agradecer a Deus, o Deus da pátria e da família, o Deus que odeia Xangô, o Jesus que odeia gay, pelo gol feito.

A Seleção Brasileira virou um time de crentes da Assembléia.
Fora a camiseta, que é símbolo dos bolsonaristas.

Tô fora.

E sem essa de “eles nos roubaram a camiseta”, eu vivo sem a camiseta da CBF. Eu não vivo é sem democracia.

O documentário The Workers Cup mostra pessoas em situação de escravidão, que trabalharam mais de 12 horas por dia, exploradas no Qatar. O homem da foto, é um deles. 

A Copa do Mundo, a essa altura do campeonato, nada mais é que o patriarcado exercendo seu privilégio de SER IRRESPONSÁVEL no meio do caos.

Assim como o seu marido. A casa em desordem, as crianças gritando, e ele vendo jogo na TV. A Copa é a diversão irresponsável da criança grande.

Mães vão ficar sem ter onde colocar seus filhos, uma vez que as creches do Rio serão fechadas nos jogos. Mas essas mães precisam trabalhar, muitas trabalham em restaurantes, ou em empresas que só vão fechar por 3 horas. Mas fodace. Os homens precisam da Copa.

Eu estava no Rio antes e depois da Copa. Eu vi o estrago, o banho de sangue.
Eu tenho o direito de não aceitar isso, e você tem o dever de aceitar. Se não aceita, vai seguir Casemiro. Aqui, é assim.

Anderson França não seria Anderson França se não mandasse você enfiar a Copa no cu. 

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

somos a primeira voz
que você ouve pela manhã.
a última com você na cama.

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