Fui diagnosticada com burnout
Leitura: 3 minAté pouco tempo desconhecida, burnout era tida como stress ou frescura. Atingindo às altas camadas na hierarquia, hoje é termo corrente nas empresas. Nomeada Síndrome do Esgotamento Profissional, é um estágio de esgotamento extremo, resulta em distúrbio psíquico, sempre relacionado ao trabalho do sujeito. Pode começar com cansaço excessivo, desmotivação e tristeza; desdobra a crises ansiosas, de insegurança, raiva, sensação de incapacidade; pânico e desespero só de pensar na ida ao trabalho. No corpo, expressa por choro descontrolado, problemas digestivos, enxaquecas, tremedeiras e taquicardia.
Surge, no geral, desse trabalho infinito, produção constante, a impossibilidade de descansar, somados a uma rotina de alimentação ruim, sono péssimo. O corpo teme a destruição e a capacidade psíquica se vê em risco por estar vinculada somente a um assunto: trabalhar. Até hoje, para se afastar do trabalho, havia um manejo diagnóstico dos profissionais da saúde para permitir a licença. Do dia 1/1 para cá, passa a ser considerada doença ocupacional, resultante de sua inclusão na Classificação Internacional de Doenças (CID) da OMS. Na prática, ficam previstos os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários assegurados no caso das demais doenças relacionadas ao emprego.
Longe do ideal, é passo importante. O reconhecimento do quadro é essencial para influenciar espaços de saúde mental nas empresas, para além da psicoterapia individual e medicação, as quais são (para quem pode) o único caminho comum de tratamento. Chega de fingir não ver empregados desmaiando de cansaço, do argumento perverso de teste de resiliência. Deve-se atuar na prevenção, responder legalmente quando se excede e rever as relações nessa estrutura tóxica na qual estamos inseridos.
Você já chegou a esse estado de esgotamento? Como lidou com a situação? Compartilhe com a gente, a saúde mental é coletiva, a troca em torno desses assuntos desmistifica e cria possibilidades para quem está em um quadro de sofrimento.
“Fui diagnosticada com burnout, mas eu amo meu trabalho!”. Podemos amar um prato, mas se só nos alimentarmos dele, teremos provavelmente problemas. Mesmo apaixonados, não damos conta de trabalhar e trabalhar e fazer aquilo o tempo todo, sem espaço para respiro, sempre envoltos em uma necessidade imensa de dar resultados e ter sucesso.
Aliás, boa questão: amar o emprego pode resultar em mais dedicação. Um sapo na panela com água no fogo, só percebendo a desgraça quando já é tarde. Nos entregamos ao fazer, mergulhando em todas as responsabilidades e lotando os espaços vazios com mais ocupações, então o corpo não dorme, não come, não há higiene mental, investimento de energia psíquica em nada mais além, e então o desgaste começa a surgir. A narrativa empobrecida, o discurso esvaziado; corpo e mente reagem.
“Mas eu amo mesmo! Não pode ter a ver com meu trabalho esse desgaste”. E resistimos mais, já que, enquanto os outros dormem, “eu devo produzir”, “quem trabalha com o que ama nunca mais precisará trabalhar”. Intoxicados, o amor perde o sentido, a tristeza se agrava, afinal é fácil reconhecer um ambiente tóxico nos fazendo mal, não é mesmo? Todo mundo sabe: “uma função sem sentido nos adoece”. Mas aquilo que amamos fazer!?
E assim, além do mal-estar em relação a todo o esgotamento profissional, vem a sensação de fracasso, culpa por não ser forte o suficiente e tristeza: eu amo o que faço…
Há uma lógica alimentando essa relação adoecedora, está encarnada em nós e o processo de ressignificação não é fácil. Não é exclusividade do Brasil, coleciono casos de diversos centros urbanos pelo mundo, mas existem ainda locais nos quais essa lógica não perdura, o que denuncia existir outro modo de fazer. Precisamos sair, precisamos pular pela cozinha e ir ver o quintal. O burnout é o superaquecimento da máquina, o motor fundindo, e não é porque você ama o seu carro ou porque ele é ótimo que ele não tem limites. Imagine você.
Texto e ilustração por @claudiozedbrites
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