Mais uma Barbie emulando representatividade
Leitura: 2 minA boneca Barbie, da Mattel, ganhou mais uma versão em sua linha “Inspiring Women”, dessa vez representando Madam C. J. Walker, empresária, filha de ex-escravizados e primeira milionária negra dos Estados Unidos.
Nascida em uma plantação de algodão em Louisiana, em 1867, Sarah Breedlove, a Madame C. J. Walker, ficou conhecida por ser fundadora da marca Walker Manufacturing Co., linha de produtos para cabelos e cosméticos feitos especialmente para mulheres negras, tendo empregado milhares de mulheres negras na empresa e tendo se tornado ativista e filantropa apoiando organizações de direitos civis e das mulheres. Walker teve, inclusive, sua vida retratada em uma série da Netflix, intitulada “A Vida e a História de Madam C. J. Walker”, em que foi interpretada pela maravilhosa Octavia Spencer.
A questão aqui é: uma Barbie negra, numa linha de bonecas que é tradicionalmente feita por bonecas que reforçam o estereótipo corporal padrão inalcançável branco e loiro de sempre, já é um avanço. Mas assim, se ela tivesse sido fabricada como uma boneca branca, representando a mesma Madam C. J. Walker, todos nós estaríamos espantados. Agora por que é que tendo sido representada num corpo magro, mesmo sendo gorda na vida real, isso ainda nos passa batido? Por que é que o corpo gordo ainda não é tido como representatividade e identidade de alguém?
Ah, mas a Mattel produziu Barbies “plus size”! Você tá exagerando! Primeiro que plus size não é gordo, plus size é o que eles chamam de “curvy”, que é uma gorda menor com curvas, sempre mais aceita pela sociedade. Gordo é aquele que fica preso na roleta, é o que não compra roupa em quase nenhuma loja, que é patologizado o tempo inteiro, que tem seu corpo visto como uma grande inflamação, que não cabe num assento de avião, nem numa maca, que não tem direito a ter direitos. Uma mera barriguinha emulando uma pessoa gorda ou curvilínea não é suficiente para tal representação.
Até quando vamos precisar bater nessa tecla de que ser gordo não é só não ser magro, mas que a gordofobia implica na perda de direitos, inclusive nos direitos de representatividade? Errou rude, errou feio, Mattel, apenas melhorem.