Herança colonial: jovens são torturados por suspeita de furto

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O empresário Alexandre Santos Carvalho, um dos donos da loja Atacadão das Máscaras, divulgou na internet vídeos em que ele, juntamente com seu primo, Diógenes Carvalho Souza, e o gerente do estabelecimento, aparecem torturando dois funcionários que, supostamente, teriam furtado o local.

O caso ocorreu em Salvador (BA). Os dois jovens foram torturados em datas distintas, sendo que o episódio mais recente de tortura teria acontecido no dia 23 de agosto. No entanto, as filmagens feitas pelos próprios torturadores viralizaram no dia 26. Marcos Eduardo, uma das vítimas, procurou a polícia para registrar a ocorrência na mesma data em que foi torturado (23).

Alexandre acusa Eduardo de ter roubado R$30,00 do seu estabelecimento. Valor este deixado pelo próprio empresário debaixo do balcão, segundo ele, para testar a honestidade do funcionário. No outro caso, o funcionário foi acusado de roubar mercadorias. 

Em uma das filmagens, William de Jesus aparece com um pano na boca para abafar os gritos de dor, seminu, mostrando o artigo 171 do Código Penal, que foi gravado pelos agressores com ferro quente em suas mãos. Já Eduardo, recebeu pauladas nas mãos e foi obrigado a contabilizar as agressões, que foram narradas por Carvalho.

Além das torturas, os funcionários sofreram diversas violações trabalhistas, como trabalhar sem carteira assinada, sem descanso após o almoço, e com descontos na folha de pagamento, devido a desconfiança de Carvalho para com os funcionários. Além disso, os trabalhadores não tinham  uma jornada fixa de trabalho.

Ou seja, diversos danos psicológicos e trabalhistas foram causados a esses dois jovens negros. Principalmente para William, que teve suas mãos queimadas e que, por trabalhar com atendimento ao público, precisa esperar as queimaduras cicatrizarem para tentar retornar ao mercado de trabalho.

De acordo com a Polícia Civil da Bahia, os casos estão sendo analisados. Por muito menos uma pessoa preta já teria sido presa, aliás, frequentemente pessoas pretas são encarceradas apenas por reconhecimento de fotos para, aí sim, aguardar o julgamento. Dois jovens negros foram torturados. William ainda afirma que um dos torturadores disse que ele ia sofrer como no tempo da escravidão.

Há testemunhas, há vídeos em que Carvalho e Souza aparecem agredindo os funcionários, as vítimas já registraram a queixa. No entanto, o caso ainda está sendo investigado e o Ministério Público do Trabalho, que abriu um inquérito para investigar o crime na última segunda-feira (29), ainda irá designar um procurador para o caso. 

Enquanto isso, diversas pessoas pretas estão presas injustamente, principalmente pela falta de recursos financeiros para uma batalha judicial. A justiça tem cor e classe. Em um país em que crime como este, em que indivíduos como estes seguem em liberdade, ao passo que uma mãe é condenada a quatro anos de prisão por tentar roubar um pote de manteiga em um ato de desespero, a cor que é encarcerada todos os dias segue sendo a mesma… Bom, sabemos como essa nossa chamada “justiça” funciona e para quem.

Mulher negra oriunda do interior do Estado do Rio de Janeiro. Professora, pesquisadora, revisora e feminista antirracista. A correria faz parte de sua vida, porque na barriga da miséria nasceu brasileira.

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