Paris. Cidade-Eu

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Eu tô em Paris.
Vim procurar trabalho, vim tentar abrir um trabalho aqui, ganhar a vida.

Paris tem mais futuro que Lisboa, porque Paris tem mais passado que Lisboa.

E Paris não é esse glamour.
Aqui eu lembro do Rio. O cheiro de mijo azedo, o cheiro de merda humana, os ratos gigantes iguais aos de Nova York, os moradores de rua, os imigrantes sobrevivendo na gambiarra, os franceses brancos esnobes e arrogantes, a pobreza, o lixo, e a blogueirinha de merda fotografando na Torre Eiffel,

isso é o real.

Paris é o paraíso do ego.
Feita pra acalentar o ego humano. Filósofos, artistas, dançarinos, pintores, estilistas, chefs de cozinha, prostitutas, todos tem uma coisa em comum: celebram a si mesmos.

Paris é considerada linda, porque Paris é a Cidade Eu. E quanto mais ego, mais parisiense.

Não condeno. Pelo menos Paris assume que tem ego.

A lua entre os prédios me lembra que além de tudo, Paris é planeta Terra. Ainda é, apesar da arrogância insegura da jovem modelo e sua magreza dilacerante.

Paris nunca disse que prestava. E como nós amamos os cretinos que não mentem.

Não dá pra conhecer Paris em um dia. Nem em um ano. Nem em uma vida. É muita cultura, muitos egos, juntos.

Já escrevi em Bangu, Morro dos 18, Central do Brasil, Nova York, Zurich, Londres, Atlanta, mas hoje vou meter essa:

Paris, 14 de maio.

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

somos a primeira voz
que você ouve pela manhã.
a última com você na cama.

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