Samantha Schmutz foi censurada no Instagram.

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E isso deveria te deixar (muito) preocupado.

Há algumas horas acompanho a censura feita a atriz e ativista de Direitos Humanos Samantha

Schmutz.

A última vez que falamos, foi na última sexta feira, no horário da minha Live, ao meio dia. Ela simplesmente entrou, ficou, conversou conosco, e com as pessoas que estavam na Live da Coluna de Terça.

Samantha eu conheci nos corredores do Vai Que Cola. O programa televisivo que ia ao ar no Multishow, para o qual eu fui convidado para escrever na quinta temporada. Ali, não tivemos a chance de conversar.

Ela representava seu personagem, suburbana do Méier, ao lado de atores que marcaram a história da arte no Brasil, entre eles, Paulo Gustavo.

Samantha era amiga e irmã de palco de Paulo. A dor que ela sentiu diante da morte do amigo, e pelos motivos, totalmente evitáveis, a dor que ela ainda sente é imensa. Conheço pessoas que trabalharam anos com Paulo, e simplesmente a ficha ainda não caiu. Como se a qualquer momento ele fosse entrar por aquela porta e dizer

gente, voltei, merda.

A verdade é que a morte de Paulo, reverenciada inclusive por Beyoncé, foi causada por um conjunto de fatores – PREMEDITADOS.

Planejados e premeditados por um governo, liderado por um homem: Jair Bolsonaro. Homem cujas práticas criminosas e milicianas são notórias, conhecidas fora do Brasil, tido como pária internacional, a França odeia Bolsonaro, a Alemanha odeia Bolsonaro, os Estados Unidos não querem associação com o nome dele, a China não boicota o Brasil por causa da HUMILHAÇÃO que deputados, governadores e senadores estão passando pra conseguir migalha de vacina.

Ele se alimenta da vaia. Se alimenta do ódio. Ele não se sente mal com o que está acontecendo, e se você fica indignado, ele cresce, porque ele se alimenta da sua morte, da sua infelicidade, ele por onde passou dividiu, dividiu a política, dividiu as famílias, dividiu até o exército.

Despreza a vacina. Despreza a medicina. Despreza a ciência. Não tem projeto de país. Meio milhão de mortos não fez o Brasil se tornar grande. Três anos de Bolsonaro não fizeram o Brasil mais rico. Não acabou a miséria; aumentou. Não acabou o desemprego; aumentou.

Porque Bolsonaro DELIBERADAMENTE recusou ajuda da Pfizer por 57 vezes, pessoas como seus parentes, e Paulo Gustavo, não foram vacinadas a tempo, e por este motivo, Bolsonaro deve ser julgado pelo crime de genocídio.

Enquanto mulheres negras são baleadas na cabeça com filho no ventre, ele ri de réplica de arma, dizendo que aquilo seria cômico se usado numa comunidade, com os ” caboclo”.

Samantha, como qualquer brasileiro que tenha sangue correndo nas veias, decidiu se posicionar, sabendo que isso poderia lhe custar a carreira.

Não são poucos os artistas que ficam calados, que falam pouco ou nada, ou que somem. Ou, quando falam, falam merda, e defendem o governo. Juliana Paes está com a conta ativa.

Ela, Fantini, Regina Duarte, as sertanejas, os homens brancos que querem uma “terceira via”, sentados no sofá de casa, bebendo whisky.

Samantha se posicionou, foi pras ruas na passeata, carregou luto, luta, e expôs seu nome. Se fosse algo calculado, ela não teria tomado algumas atitudes, no intuito de preservar o nome. Ela decidiu mergulhar. Ela está sentindo o chicote, assim como você e eu. Vários artistas estão emprestando seu nome e visibilidade, pra lutas que antes, no morro, tínhamos sozinhos.

Ela disse o óbvio. O que outras pessoas públicas, políticos, analistas, pesquisadores, jornalistas já disseram:

Bolsonaro é um genocida.

Contra essa afirmação, um batalhão de advogados do Planalto se mobiliza. Delegados. Policiais, milicianos, capangas ameaçam e tentam localizar pessoas, invadindo casas, vilas, mentindo, dizendo ter mandados, mas saibam: há pessoas nas ruas do Rio atrás de jornalistas e pessoas públicas, para intimidar e ameaçar, não apenas através do aparelhamento da Policia, o que estão fazendo com o Demori do Intercept, mas há pessoas que relatam ter carros parados na porta de suas casas.

Nós estamos diante da maior perseguição a imprensa desde a ditadura.

Fora isso, as redes sociais atuam para favorecer o discurso autoritário.

Nenhum de nós sabe quem vai ser o próximo demitido de jornal, alvo de inquérito da polícia, censurado por rede social, perseguido nas ruas, ameaçado de morte. A ABI precisa reforçar o seu radar. Tem algo grave acontecendo, para impedir que nós, influenciadores não-alinhados com Bolsonaro, sejamos silenciados nas redes e mesmo mortos para que ele seja reeleito, uma vez que não poderá contar com os robôs e com o apoio maciço da direita.

Sejam advogados, sejam advogados dos apoiadores do presidente, sejam instituições, associações, igrejas, pastores, todos estão como feras, dia e noite, perseguindo, intimidando e ameaçando.

Se algo acontecer a algum jornalista, formador de opinião ou influenciador nesse contexto, a responsabilidade única e direta será de Jair Bolsonaro. Se algo acontecer comigo e minha família. Se algo acontecer, e já está acontecendo, vocês que demoram a entender, nós já estamos vendo o próximo movimento deles.

Enquanto alguns ainda dizem que estamos exagerando, o dia a dia vai comprovando a agressividade de Bolsonaro. Qualquer um de nós pode amanhecer morto. E isso, em si, nem é o problema. O problema é que quando as instituições decidirem agir, será tarde.

O que aconteceu a Samantha, vai acontecer com muita gente ainda. Já aconteceu comigo, e vai acontecer de novo.

Samantha é uma artista brasileira, que neste momento se encontra arbitrariamente silenciada. Essa guerra não vai acabar aqui, e não será apenas ela.

O que vocês precisam saber, é que a única responsabilidade é de Jair Bolsonaro. A perseguição, a intimidação, a ameaça e o silenciamento.

O Brasil acabou.

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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