Suéllen, prefeita de Bauru: bolsonarista e transfóbica
Leitura: 3 min“Igual é um caminhão cheio de japonês”.
Era a frase que ouvia quando criança, em programas de TV, como Os Trapalhões.
Não.
Um caminhão cheio de japonês só parece se tratar de um monte de gente igual, pra quem é racista. Cada pessoa tem suas características, físicas, psicológicas, individuais.
Mulher negra não é tudo igual.
Um monte de mulher negra junto, um caminhão de mulher negra não é tudo igual. Uma bancada de mulheres negras no Congresso não será tudo igual. Uma mulher negra na política não será igual a outra. Porque elas tem características individuais, interesses políticos distintos, ideologias diferentes e caráter distintos.
Quando Suéllen foi eleita, no dia seguinte foi alvo de xingamentos racistas por um homem branco. Suéllen é prefeita de Bauru, eleita em 2020, uma mulher negra de direita, que venceu o pleito contra outro candidato de direita. Mas este, homem, branco.
Tirando o fato de que, na hora do pau, Suéllen vai apanhar tanto quanto uma mulher negra de esquerda, porque racista odeia preto, não importa se é de esquerda ou de direita, a existência da prefeita de Bauru interessa mais ao mundo masculino branco que ao feminismo negro e às mulheres negras que lutam por direitos humanos. Pra vencer, basta se submeter a um homem branco, entrar no jogo dele, aceitar um cargo, e pronto.
Suéllen representa uma vitória de uma classe média branca, que a usa como escudo, como fantoche, desviando a atenção de outras mulheres negras e esvaziando o sentimento de que mulheres negras precisam lutar e se envolver em movimentos para se emanciparem. Suéllen não prega emancipação do povo negro. Ela é assimilacionista, ou seja, ela é um corpo sem alma, assimilado pelo sistema político da direita fundamentalista, e assumiu um cargo de liderança para cumprir, como empregada, os interesses dos brancos que comandam seu partido, o Patriotas, ninho de bolsonaristas, como ela.
Não se confunda.
Um caminhão de japonês NÃO é tudo igual.
A prefeita de Bauru é evangélica, nega o movimento negro, apaga de suas falas qualquer lembrança aos prejuízos da escravidão, alinha-se com o bolsonarismo e todas as suas práticas. A prefeita de Bauru é branca. Se fechar os olhos e ouví-la, em nada seu discurso difere de Bia Kicis.
E assim é a extrema direita. Bia Kicis, judia, abraça a líder da extrema direita alemã. Uma judia, abraçada a uma neonazista. Suéllen abraça Bolsonaro, e seus dogmas. Ela, jornalista, que conhece Bauru, entregou o que tinha para um projeto de poder que, no âmbito federal, é genocida.
E ao intervir no McDonald’s, deixa nítida sua transfobia, alinhada que está com o pensamento bolsonarista e evangélico fundamentalista.
Isso pra não falar que intervém no mercado e nas liberdades individuais.
Ou seja, O BOLSONARISMO NÃO É LIBERAL, mas intervencionista.
Políticos bolsonaristas vão intervir nas liberdades individuais, e mesmo que sejam EMPRESAS MULTINACIONAIS de grande impacto como o McDonald’s, o bolsonarista vai intervir, fazendo algo que um político de esquerda não faria. Suéllen cedeu ao vídeo de uma mulher transfóbica, que chama o McDonald’s de comunista e criminaliza pessoas trans, sugerindo que elas são ameaças a crianças. A direita descobriu a fórmula do PSOL: usar negros, gays, trans, para ter votos. Ambos, movimentos políticos dirigidos por brancos. Suéllen é só mais uma pessoa negra que cedeu a Casa Grande. É um desastre a prefeitura de Bauru intervir numa empresa privada por conta de gênero, com desculpa de vigilância sanitária.
Anderson França é colunista e redator-chefe da Coluna de Terça