O circo em torno da sinhá da casa abandonada
Leitura: 2 minOntem conversava com uma amiga sobre o podcast A Mulher da Casa Abandonada, produzido e apresentado pelo jornalista Chico Felitti. Se você não sabe nada sobre isso, eu vou te explicar resumidamente.
A tal mulher, Margarida Bonetti, que costumava se apresentar como Mari, sempre com uma pomada branca na cara, vivendo numa mansão em Higienópolis, manteve POR ANOS uma empregada em condições análogas à escravidão nos Estados Unidos, junto com o ex-marido. A empregada foi um PRESENTE DE CASAMENTO. Quando descobertos, ele foi preso e ela fugiu para o Brasil. Seguiu sendo procurada pelo FBI até o crime expirar.
Agora, com o podcast, ela se tornou uma espécie de celebridade. Teve Datena em transmissão ao vivo; teve Luísa Mell no resgate de um cachorro que, com certeza, foi mais bem tratado que a empregada; teve transmissão ao vivo pra tudo que é rede social da frente da casa; teve carro de polícia e ambulância…
Em meio a isso tudo, a coitada da sinhá foi tratada exatamente como branca que é. Datena tratou-a como uma pessoa digna de pena. E pior: toda essa operação de polícia, ambulância e o aparato todo, era pra se descobrir se ela, Margarida, era VÍTIMA de abandono de incapaz. Racista, escravocrata, criminosa, bandida, tratada como vítima. Como deve ser bom ser branco, misericórdia.
Eu ainda não consegui ouvir o podcast. Sorte da minha terapeuta. Mas sei, por tudo que já li sobre, que a empregada de Margarida era uma criança quando foi DADA a ela e ao ex-marido e que na entrevista para o podcast, que ela se mostra o monstro que é: racista, escravocrata, gordofóbica. Cheia de comentários nojentos e preconceituosos como só uma pessoa dessas é capaz de produzir em alta voz.
A pena que sentem dela, é o que tipicamente se dispensa a pessoas brancas. Porque, ao mesmo tempo em que ela estava sendo tratada como uma coitada, a polícia tava chutando os moradores da Cracolândia pra algum outro beco da mesma cidade usando de força policial, cães, gás, cassetete e, quem sabe, tiros.
Esse é o retrato claro de um país falido e f*dido: chacinam pretos inocentes e tratam como vítimas brancos bandidos.