A humanidade falhou

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Incrivelmente, cada dia mais se escancaram as diferenças, desigualdades e problemas contidos no mundo. Não há Copa do Mundo, Olímpiada, Eleição, nada mude, altere, modifique, salve. E estas coisas, as quais para muitos são os VERDADEIROS problemas, até distraem. Mas é só. Porque estar vivo, hoje, é, em verdade, um constante choque de Realidade, com desprezíveis doses esporádicas e escassas de alívio.

O dia de hoje foi mais um em que a Realidade se mostrou como o palhaço de It, a coisa, o filme de terror. Está chocando o mundo a foto de 3 nigerianos imigrantes que, fugindo de algum perigo em sua terra natal, viajavam para a Espanha no LEME de um navio cargueiro. Um navio abissal, um leme igualmente gigantesco, a água do oceano quase alcançando seus pés. Inacreditável.

As três pessoas foram recebidas nas Ilhas Canárias, território espanhol perto do Saara Ocidental, muito cansados, com sintomas de hipotermia e desidratação moderada, segundo a Guarda Costeira espanhola. O navio, que estava com bandeira de Malta e tinha o nome “Alithini II”, saiu de Lagos, capital nigeriana, no dia 17 deste mês, de acordo com o site ship-tracking.

Infelizmente, são muitas as tentativas de fuga se lançando no Atlântico, sobretudo em barcos pequenos, em busca de uma vida melhor e mais segura. Esta é, portanto, uma cena que é tão absurda, que não só choca; ela é, de fato, mais uma constatação da nossa total falha enquanto humanidade, sociedade e indivíduos.

Outra notícia chamou a atenção, há alguns meses, na mídia alemã. A rede alemã ZDF mostrou uma reportagem sobre os adictos em um bairro boêmio de Frankfurt am Main, uma das grandes cidades alemãs. Mostravam, um tanto surpresos e consternados, a realidade das ruas sujas, dos pedintes, de pessoas adictas em estágio preocupante, do aumento da criminalidade, e, claro, da revolta dos “cidadãos de bem” do bairro com aquelas pessoas.

Foto: Reprodução – zdfheute/Instagram

O que espanta nesta matéria é a perplexidade e a passividade dos entrevistados diante de um problema de saúde pública, dando a entender até que poderia se tratar de uma escolha individual dos adictos o fato de serem adictos. Alguma semelhança com a nossa realidade? Pois é.

Além disso, espanta também o tamanho do choque de Realidade, a qual, infelizmente, já é tão comum a nós nos Trópicos, mas agora em um país como a Alemanha. É emblemático demais. Isso não é um efeito pós-Merkel. Não tem a ver com Scholz, novo Chanceler, ou sua Ampel-Koalition (Coalizão Semáforo, coalizão entre partidos alemães para o Governo, liderada pelo SPD, Partido Social-Democrata alemão). Tem a ver com os movimentos do mundo e, consequentemente, com as mudanças que insistem em acontecer a partir de problemas, mesmo quando governos e sociedades inteiras fecham os olhos para eles.

Definitivamente, o mundo já está (e continuará!) cobrando uma conta que jamais fechou. Com violência, com conflito, com guerra, com seca, com mais calor. Não tem mais volta. Neste ponto, não há como não lembrar do profeta Emicida, posto que ele anuncia o que se pode esperar desses movimentos que o mundo tem demandado:

“violência se adapta: um dia ela volta pra você…”

E não tem hexa que desfaça esse choque.

É Preto, professor de alemão na Educação Infantil, formado em Letras pela UFRJ, pós-graduado pela UERJ, escritor do cotidiano de educador, baterista, viajante, poliglota, amante de esporte. E está Sobrevivendo no Inferno.

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