Estudante é agredida por namorado após “beber cerveja sem ele”
Leitura: 3 minO caso aconteceu na última sexta-feira (09), no setor Sudoeste, bairro de Goiânia (GO). A estudante Isabella Lacerda, de 20 anos de idade, estava em um almoço de família quando ligou sem querer por vídeo para o namorado, Thiago Brandão Abreu, de 40 anos. Ao ver uma garrafa de cerveja na mão da estudante, o homem teria ficado irritado e ido até o local buscá-la, ameaçando a estudante por mensagem, dizendo que ela iria “pagar caro” por aquilo. Ao chegar na casa da família, o agressor exigiu que ela saísse para que eles conversassem, além de ter ameaçado atirar no irmão da estudante, caso ele interviesse.
Ao sair da casa, a estudante foi obrigada a entrar no carro dele. Isabella foi agredida com socos, mordidas e coronhadas por três horas, sob a mira de uma arma, enquanto o agressor dava voltas de carro pela região. A estudante só foi salva porque conseguiu enviar a localização de onde estava para a mãe, que ao chegar ao local, conseguiu convencer o homem de libertar a filha. A jovem está com diversos hematomas pelo corpo e teve parte dos cabelos arrancados.
À reportagem do G1, Isabella contou que tinha um relacionamento com Thiago há cerca de 11 meses, e disse ter ficado surpresa com a atitude agressiva dele. Segundo a jovem, o homem é atirador esportivo e sócio de uma empresa de caça e pesca que vende armas e munições. Ela contou ainda que ele sempre carrega uma arma de fogo. Após conseguir fugir das agressões, a mulher foi a uma delegacia de polícia na madrugada de sábado (10), onde representou criminalmente contra o agora ex-namorado e pediu medidas protetivas contra ele. O agressor foi preso em flagrante e teve a prisão convertida em preventiva após passar por audiência de custódia.
Em que planeta será que vive esse homem que, provavelmente, se considera um cidadão de bem, que acha que pode proibir a pessoa “amada” de qualquer coisa? Que agride e ameaça uma mulher porque ela bebeu sem ele? Ele vive num planeta e numa sociedade machista, o mesmo em que também vivemos: esse que ainda acredita na ideia de amor como posse. Num mundo que ainda divide mulheres entre “pra casar” e “pra fuder”, e que tenta ditar regras de postura e convivência para essas mesmas mulheres que dizem amar. Um homem que agride e tenta matar uma mulher, dentro de um relacionamento, não a vê como igual nem a ama, mas a enxerga como objeto de sua posse, a quem ele tem total e irrestrito direito.
Infelizmente, ao mesmo tempo em que há uma geração de mulheres nessa faixa de idade que segue se empoderando cada vez mais cedo, há também um movimento contrário, tradicionalista e misógino que segue perpetuando violências como se fizessem parte do ato de amar. O que eu percebo quando leio sobre casos como esse é que tudo quanto é violência contra a mulher se dá, em sua maioria esmagadora de vezes, não só pelo fato de haver uma estrutura que faz com que esses homens existam e se mantenham no poder de achar que têm esse direito, mas também pela existência de outra estrutura, que tenta nos ensinar a depender destes homens, seja para gozar e pra medir quem devemos ser, seja para nos sentirmos amadas ou para formar uma “família”, além de fazer com que nos sintamos menos incompletas nesse mundo.
Basta abrir o tiktok e ver as trends de “pegadinhas de casal” e perceber que todos esses valores estão sendo passados erroneamente e cada vez mais cedo para meninas e mulheres. Não que eu tenha muita esperança, mas acredito que para mudar essas estruturas, só com muito diálogo desde a infância, sobre corpo, pertencimento, a ideia de amor e relacionamento. Empoderar-se não é somente sobre a autoestima de se olhar no espelho e gostar de si; é também sobre entender o que merece dentro e fora de um relacionamento, e na prática, nada tem a ver com que Simone de Beauvoir ou qualquer mulher branca do feminismo tenha dito.