Evangelho de João, capítulo 6
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Evangelho de João, capítulo 6.
Versão atualizada pela direita brasileira.
Então Jesus, vendo que a multidão o seguiu o dia todo, percebeu que estavam com fome.
Ouviram suas palavras, em pé, na cidade de Tabgha, na Galiléia, cerca de 7.000 pessoas. O sol queimava a pele, e eram eles pobres, órfãos, viúvas, doentes, desempregados e excluídos da Grande Jerusalém.
André, seu discípulo, disse:
Mestre, o povo tem fome.
Jesus, então, tendo compaixão daquele povo que o ouvia, olhou pra André e disse:
Dai-lhes vós de comer.
Mas André respondeu: Mestre, temos apenas cinco pães duros, e duas latas de sardinha.
-Diz pro povo se sentar no chão. Em grupos de 10, de 50, de 100.
E Jesus pegou o pão duro, e abriu a lata de sardinha, e disse:
Obrigado, Meu Pai, por esta comida.
E distribuía para todos. Pobres, doentes, cansados, negros, gays, mulheres, trans,
povo de Santo,
detentos,
desalentados,
usuários de crack,
indigentes,
desistentes,
favelados,
excluídos,
marginalizados,
criminalizados.
E o dia acabou, e o povo ainda se alimentava. E a noite veio, e o povo ainda comia, porque eram muitos,
e a fome era muita.
Uma fome que não acabava. Um problema que não acabava.
Um problema que César, o imperador, Pilatos, o governador, ou Herodes, não resolviam.
Na ausência do Estado, um homem negro e morador da periferia da Judéia, o favelado de Nazaré, mal falado pela polícia e pelos religiosos, mas amigo das putas, e dos maconheiros, ele deu pão e água para uma multidão de famintos, de pessoas em insegurança alimentar, aqueles que ninguém queria.
Ele multiplicou a comida, num milagre.
Esse é o evangelho deste Cristo.
Arrependam-se dos erros do passado, e sejam bem vindos a Utopia do Reino de Deus, onde ninguém mais passa fome.
Enquanto uns ainda comiam, e Jesus ainda multiplicava comida, uma mulher se aproximou e disse:
-Quem é o líder de vocês aqui?
Todos olharam pra Jesus.
A mulher veio, cheia de si, um rosto transfigurado, uma aparência de demônio, os cabelos desgrenhados, e disse:
-Você é o Jesus daqui?
-Sim.
-Meu camarada, você tem que parar com essa caralha aqui. Já são 11 da noite, a vizinhança aqui, tu tá vendo aqui? Litoral, beira de praia. Só mora amigo meu, amiga minha. Juiz, deputado, empresário. Ninguém consegue dormir com essa porra dessa gente falando. Um cheiro de merda, uma desgraça. Esse monte de gente amontoada aqui, você tá alimentando o crime, porra. Qual é, cara. Tu tá aqui sendo criminoso também, porque quem alimenta o crime, criminoso é. Tu é criminoso. Tu não vale nada. Onde já se viu, dar comida pra pobre,
se eles são pobre, é porque não trabalharam.
Não gostam de trabalho, são comunista, gostam de viver do Estado, do meu imposto. Tem que parar de dar o peixe, e ensinar a pescar, porra. Cada um vagabundo desses, criar uma startup, pra trabalhar no Cubo Itaú.
Bando de maconheiro e prostituta. E tu aí, aplaudindo, achando bom. Tu é um deles. Eu, olha só, eu sou importante, hein. Tu não mexe comigo não, que eu já derrubei presidente. Eu sou a voz da razão. Eu oro pra Maria.
-Maria, …minha mãe?
-É
-Ela sabe?
-Tem que saber, eu sou muito importante.
Jesus olha pra mãe, atrás dele.
-Tá sabendo disso aí, mãe?
-Meu filho, a gente vira pessoa pública, o nome da gente fica igual osso – na boca de cachorro. Essa aí que jura que me conhece, eu atravesso a rua.
Então a mulher, babando de ódio, disse que ia ligar pra Guarda Civil Metropolitana da Galiléia. E mandou Jesus sair dali. Expulsou ele da cidade.
Jesus saiu. Recolheu suas coisas, o povo foi ele, saíram, pela estrada.
Os discípulos, putos da vida, perguntaram a Jesus, no meio da estrada:
-Mestre, qual vai ser? Vamo voltar lá e lamber ela na porrada?
E Jesus respondeu:
-A hora dela, e de todos, vai chegar. Eu tenho é que me controlar, porque minha mão tá coçando pra fazer outro milagre aqui, que ia dar uma merda fuderosa.
-Qual, Mestre?
-Ressuscitar Lázaro.
Geral ficou como. Cu trancado.
A sorte de uns e outros aí, é que Jesus não é um sujeito vingativo.