Guia para não ser babaca
Leitura: 5 minVersão não monogamia e relacionamentos abertos
A não-monogamia nada mais é do que uma relação aberta em que ambas as partes têm a liberdade de conhecer e sair/transar com outras pessoas e se encaixa numa categoria de anarquia relacional, que visa, naturalmente, derrubar a estrutura patriarcal e heteronormativa dos relacionamentos.
Há quem diga que não há nada de novo no front, e que esse tipo de relação reproduz valores hierárquicos patriarcais – aquela coisa do homem/mulher hetero em que o homem domina e a mulher se submete, saca? E que pauta 99% dos relacionamentos, sejam eles hetero ou não. (Desde o “quem é a mulher do relacionamento”, até a dualidade ativo/passivo)
A não monogamia não é sobre putaria.
Esse modelo de relação é sempre bastante mal compreendido e executado por causa de que, minha gente? De homem, né? Ô serzinho que nasceu pra ser babaca!
A não monogamia é sobre liberdade.
A maioria das pessoas que se diz não-monogâmica normalmente não faz ideia do que tá fazendo e na maior parte do tempo tá seguindo uma lógica que só existe na cabeça e no ego dela.
Há diversas dinâmicas e relações possíveis dentro desse modelo de relação, e como toda a unanimidade é burra, obviamente, assim como o feminismo, a não-monogamia também possui diversas correntes.
Dá pra ser monogâmico sem ser babaca, sabia, er… homens?
Os homens têm essa mania de verter tudo a favor deles, né? O “meu corpo, minhas regras”, vale só se a gente quiser dar pra ele sempre que ele quiser nos comer.
Ser bi e ter relacionamento aberto é lindo, mas só vale pra namorada dele pegar outra mulher na frente dele. Ele nos quer livres, mas livres pra realizar as fantasias dele.
Muita mulher também abre o relacionamento pra segurar o parceiro, que não consegue se ver com uma mulher só.
Ou casais que abrem o relacionamento porque chegaram a um ponto morto da relação em que precisam dar um reload, exemplo: o casal que procura alguém pra ménage porque quer apimentar o casamento.
Sempre dá merda.
Relação aberta não é sobre fazer ménage e suruba todo dia.
Mas sobre ambas as partes terem a liberdade de estar com outras pessoas e não necessariamente estar com elas o tempo todo.
E entendam, o amor é pra ser livre e profundo, e não pra pesar ou doer, muito menos pra restringir.
Eu me considero não-monogâmica e não-poliamorista.
Parem de confundir não-monogamia com poliamor – são duas coisas diferentes: um poliamorista é necessariamente não-monogâmico, o que não ocorre necessariamente ao contrário: um não-monogâmico pode se sentir satisfeito em um único relacionamento de amor, parceria e construção com outra pessoa, sem precisar firmar relações estáveis com mais de uma pessoa. E infelizmente, nos últimos tempos poliamor virou sinônimo de homem branco realizando fantasia.
Não-monogamia, pelo menos na minha vivência, não é bagunça!
Me tornei não-monogâmica quando comecei a performar e entendi que meu corpo e meu prazer não poderiam ser prova de amor pra mais ninguém
Porque é nisso que a monogamia se baseia: na posse do corpo. O seu corpo e o seu prazer ficam restritos a uma só pessoa, e essa se torna a maior prova de amor que sustenta o relacionamento.
As pessoas fuderam com tudo e essa posse dentro do relacionamento foi para além do corpo e se estendeu por celulares, roupas e modos de agir, uma vez que a grande maioria das pessoas têm ideias fechadas de amor, e de repente se veem presas numa série de ações e reações restritas e que colocam a prova o tempo todo o que você sente pelo outro
Na monogamia tudo é prova de amor e a gente acaba se moldando e vivendo de acordo com a expectativa de amor que as pessoas têm, assim como esperamos e fazemos com que o outro também viva assim.
Cês tão entendendo a zoeira?
Terraplanismo é isso daí, igualzinho.
Não-monogâmico também ama!
Sabia que dá pra amar alguém e transar com outro alguém sem diminuir o amor que sente pelo primeiro alguém?
Mas pra isso, tem que não ser babaca
Entrou em aplicativo? A primeira coisa que tem que ser dita ou explicitada é que você tem um relacionamento, seja ele não-monogâmico poliamorista ou não
Chama responsabilidade afetiva, aquele mínimo que quase ninguém tem hoje em dia
É o mínimo pra ser sincero e aberto com as outras pessoas
“Ah, mas eu tenho o meu combinado com a minha parceira”, beleza, não faz mais do que a obrigação, mas as pessoas de fora também precisam saber o que esperar
Combinar regras claras tanto com seu/ua parceiro/a quanto com as pessoas com quem você virá a sair é essencial pro funcionamento da coisa e faz parte do mínimo também
A primeira coisa é entender o que cada um consegue e quer, com o que cada um se sente bem, pra depois chegar a um ponto/dinâmica comum do relacionamento
Depois, não se forçar a nada, porque como eu já disse lá em cima, não é porque você é não-monogâmico que precisa cair na suruba, ménage e troca de casais todo dia.
É simplesmente sobre ser livre e sobre entender que o seu corpo e o seu prazer não podem ser prova de amor pra ninguém.
Não é porque você é não-monogâmico e tem um relacionamento aberto que precisa tratar as outras pessoas com que sai como lixo.
Isso deveria ser óbvio, mas como muita gente entende o sexo casual como superficial e raso, acho que é preciso explicar.
Você não precisa se apaixonar fora do seu relacionamento, mas também não precisa deixar o afeto de fora.
Parar de ver o outro como um pãozinho diferente e caro na mesa do café da manhã que você escolheu pra apimentar o teu casamento já é um grande passo.
p.s. se você acha que abrir o relacionamento vai salvar o teu casamento, sinto te informar, mas você já tá fazendo isso errado.
A não monogamia é uma decisão mútua de duas pessoas minimamente maduras e bem resolvidas com seus corpos e sentimentos, não é bote salva-vidas de nada.
Como eu digo sempre, é preciso aprender a se amar primeiro pra depois amar o outro.
E tem que ter muito amor e segurança envolvidos pra que nenhuma das partes se machuque nessa parada.
E ninguém é obrigado, claro.
É preciso desconstruir muita coisa pra chegar a uma relação aberta.
Fiquem ligados pra mais dicas de como não foder com a sua vida nem com a vida dos outros!