Hoje eu fui ameaçada de morte
Leitura: 2 minPor fazer o meu trabalho. Em Portugal. Por um português que disse que eu vim pra Portugal pra ofender os portugueses. É isso.
Estava com Anderson França em campo cobrindo um evento antirracista no Chiado, zona gringa, feita pra turista.
Era meio-dia e a gente tava gravando as últimas entrevistas. Olhei para o celular e tinha duas chamadas perdidas do Tiago, meu marido, e um monte de mensagem dele no whatsapp. Fui olhar, porque não é típico, ainda mais quando ele sabe que estou gravando.
Abri as mensagens e ele tava pedindo, em pânico, pra eu apagar as stories de onde eu estava que um rapaz tinha ligado pra ele dizendo que ia matar a mim e ao Anderson. Pra eu me proteger e encontrar formas de conseguir fugir daquilo.
O mundo girou em dois segundos e eu comecei a tremer. Falei pro Anderson e saí caminhando meio que em desespero até os policiais que acompanhavam a manifestação. O policial tentou me acalmar, depois amenizar, depois dizer que eu não devia deixar que me amedrontem, que ninguém é doido de matar jornalista em Portugal.
Do outro lado, ele ligando de número privado pra Tiago, dizendo que sabia onde morávamos, onde Anderson mora e que ia dar um tiro em Anderson. Que talvez me perdoasse por respeito a ele, Tiago, que é português.
Demorou pra eu entender que é só alguém que quer tirar nossa paz e se divertir com o meu medo.
Um turbilhão na cabeça. O medo de alguém fazer mal à minha família. Medo, não só de morrer, mas de ser agredida, estuprada, viver sob a sombra de ameaças, me escondendo, em pânico. Em Portugal, dito um dos países mais seguros do mundo.
Isso tudo, porque, segundo o “matador”, eu vim pra Portugal pra ofender os portugueses.
Pode voltar os meus posts. Eles estão todos aí. Tem que ser muito mau caráter pra dizer que eu ofendo português, porque o que eu faço se chama jornalismo: existe uma notícia, eu dou a notícia e emito minha opinião. Esse é o meu papel: levar a notícia às pessoas. Ponto. Não tem aqui perseguição a portugueses.
Agora, nem sonhem em achar que porque eu estou aqui, eu vou passar pano pra tudo de errado que acontece no país. Não fazia isso no Brasil, não vou fazer aqui e em lugar nenhum que eu viver.
Anota: não vão nos calar.
E isso não vai ficar assim, porque ninguém sai ameaçando uma equipe de jornalistas e passa impune. Não com a gente. Não aqui. Não em 2022.