Lula no Rio: Wesley, o sorriso negro

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Ontem, Lula foi no Rio.
Não foi na Lapa, reduto da esquerda branca, burguesa. Foi na Cinelândia, onde a classe trabalhadora historicamente se reúne. Ao lado da Rio Branco, ao lado do metrô, porque trabalhador se manifesta, mas vai pra casa de ônibus, metrô e trem, não vai de Uber beber na São Salvador.
Trabalhador tem horário.
Lula foi nesse lugar. Onde já foi outras vezes. Onde Marielle foi vista pela última vez, dentro de um caixão, e eu estava lá, naquele dia, debaixo daquele sol.
Estava lotado.
Quadras dali, a Banca do André, aberta, pra um samba do trabalhador que acaba cedo, pra quem vai no sentido da Carioca pra ir pra Central.
A Banca do André é um patrimônio artístico e cultural da humanidade. Uma banca de jornal que traz cultura pro trabalhador, pro povo, pelo simples prazer que o André, dono da banca, tem de ver pessoas bebendo uma cerveja e fazendo aquilo que o carioca sabe fazer de melhor: viver, apesar de.
Um sorriso negro, um abraço negro, traz felicidade.
Negro é a raiz da Liberdade.
Canta aí.
Milhares de pessoas passavam pela roda de samba da Banca.
Com o RioCard na mão, correndo pra não perder o Belford Roxo, o Santa Cruz, o Japeri, que Deus abençoe esse povo nosso, numa Supervia esculhambada que cobra 7 pau pra levar as pessoas como se fossem bichos. E já vi bichos serem melhor tratados.
Lula, porém, encheu o Centro.
Fugaz ou não, a esperança das pessoas, de serem donas da rua de novo, de se amarem e terem a esperança de um outro Brasil possível para além do ódio, da xenofobia, racismo, sexismo, extorsão, milícia, reacendeu o amor das pessoas ali.
Wesley Teixeira, da Coalizão Negra por Direitos falou, ao lado de Lula. Wesley é nosso futuro no Rio. Homem negro, conhecedor da dor, da Baixada, íntegro e fiel aos seus compromissos, cria das verdades que aprendemos no morro.
As pessoas que estavam ali, felizes, falavam de esperança. De um dia Jean voltar, eu voltar. De apoiar a Coluna, fazer um pix, de apoiar candidatos negros, de futuro, de vida.
Pelo menos por uma noite, um pedaço do Rio voltou a sorrir.
E obrigado. Obrigado Lula, Wesley, os que por uma noite fizeram isso. Obrigado, André, pelo seu trabalho na Banca. Um dia, André, eu vou estar aí, todos, numa roda, na tua banca, cantando que negro é a raiz da liberdade.
Viva o povo brasileiro.

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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