Não confundam diversão com importunação
Leitura: 2 minO caso ocorreu na “Farofa da Gkay”, evento conhecido por uma suposta “liberdade sexual” em que quase todo mundo se pega e pessoas contabilizam e publicam em suas redes, no mínimo, quantas bocas beijaram. Se as pessoas estão lá no clima de pegação, se tem muita festa, se tem dark room, é porque tudo deve ser feito com consentimento, que é aquele mínimo, né? E a gente nem devia ter que explicar. E absolutamente nada disso justifica assédio.
Na tarde de ontem (06), o humorista Tirulipa estava presente numa dinâmica semelhante ao extinto quadro “banheira do Gugu”, em que mulheres “lutavam” de biquíni em uma banheira com água para pegar um sabonete. O quadro era um belo exemplo da sexualização e objetificação de corpos femininos nas tardes dominicais da família tradicional brasileira.
Em vídeos que circulam nas redes sociais, Tirulipa é visto desamarrando a parte de cima do biquíni das participantes durante a brincadeira. Em declaração ao UOL, a influencer Nicole Louise contou ter se sentido “invadida” e assediada com a atitude do humorista, afirmando que ele também fez isso com outras mulheres. Várias outras influenciadoras denunciaram a situação em seus perfis. A produção da festa, ao saber do caso, emitiu um comunicado sobre o assédio e expulsou o humorista do evento.
Tirulipa, o importunador casado e pai de duas meninas, já se desculpou através de um vídeo dizendo que “tentou levar uma brincadeira, uma alegria” para a festa, mas que acabou se “excedendo”. Afirmou também que “trabalhar com comédia é muito complicado, mas que Deus sabe quem ele é”. E pediu perdão dizendo ter ido ao evento com a mulher, citando ser pai de duas filhas e também não querer isso para elas.
O crime de importunação sexual é frequentemente confundido com o de assédio e está na Lei 13.718/18 do Código Penal brasileiro, que especifica e condena, no artigo 215-A, “a prática do ato libidinoso (que tem objetivo de satisfação sexual) na presença de alguém, sem sua autorização”, o que consiste em apalpar, lamber, tocar, desnudar, masturbar-se ou ejacular em público, dentre outros.
Será que se ninguém tivesse se incomodado, teria passado batido, como na maioria das vezes? Porque esse tipo de crime está muito naturalizado na sociedade. É por “brincadeira” dos homens, pelo “não foi por mal” deles que seguimos sendo assediadas e importunadas todos os dias, quando não mortas e estupradas. É por isso que é muito importante falar sobre o assunto. Nas redes, pessoas afirmam que mulheres que vão a esse evento “não se dão ao respeito” na já tão famosa “culpabilização da vítima”, coisa que a sociedade tradicional adora. Quem mandou ser mulher e querer ficar de biquíni numa festa na piscina, né? Quem mandou ir num evento desses? Como disse alguém num comentário: “mulher tem que ficar é em casa e na igreja”, onde também é violentada quase sempre. Até quando?