O TALIBÃ É NO CHAPADÃO

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Ah, meuzamigue inho.

Como este que vos perturba apanhou de uma renca de mulher branca, espumando mais que Garotinho quando foi preso, porque eu disse, basicamente, que nós devemos cuidar da nossa vida, e o Afeganistão que se resolva.

Primeiro: VOCÊ ESCREVER NO TWITTER RESOLVE?

Os cara lá em Cabul, com a boca cheia de bala de .50, acorda de manhã, mata uns 300, abre o Twitter e fala

-Mohamed

-Oui.

-A Luisa postou aqui cara…que a gente tá sendo malvado. Porra. No Twitter.

-Sério?

-Porra, olha aqui.

-Vish mano…quem é essa?

-A Luisa, pô. Não lembra dela? Faz roda do sagrado, posta umas coisa de vegano.

-Cê tá brincando. A Luiza da roda da lua? Ih mano, vamo parar tudo agora.

PAREM DE PALHA ASSADA

Brasileiro não entendeu que o lugar dele no cenário mundial é de lixo.

Nada, absolutamente nada no mundo, e ninguém, nos pede permissão.

E internet não nos dá poder algum.

Embora, caso você não saiba, o Chapadão fica no Rio.

Uma favela com muita pobreza e abandono do Estado.

Ali, no miolo de Coelho Neto, temos pessoas que andam na Brasil ou nas pistas principais catando madeira. Assim como na Via Light. Mulheres catam madeira, pra fazer comida na lenha, com um gás que, lá, custa 110 reais.

Num país com, 116 milhões com fome. E 15 milhões de desempregados. E 25 mulheres sofrendo violência doméstica por minuto, e um jovem negro morrendo a cada 4 minutos.

Num país com 600 mil mortos.

O Talibã, em 13 anos, assassinou 152 mil pessoas. Bolsonaro, em um ano, matou mais de meio milhão. É um terrorista. É terrorismo de Estado.

Nós temos centenas de deveres de casa não feitos.

Nossa escravidão fala alto. Altíssimo, e nada há que a apague, nem teu discurso bem elaborado. Continuam brancos em cima, pretos embaixo. Não tente argumentar.

Okay, mulher branca tenta.

E vocês sabem, a internet, lugar das letras, é o lugar onde elas são mais agressivas, violentas, e racistas. Que eu não posso criticar o feminismo que se dói pelo Afeganistão, “porque não é só minha dor que conta”. Que eu “divido”, que eu isso, aquilo. Muita coisa. Sou sagitariano, esqueço fácil.

Mas a pauta delas foi essa:

elas, as brancas, acham que é um acinte mulher afegã não terminar a faculdade.

Pergunto: o feminismo brasileiro está empenhado em pagar a creche do filho da empregada?

Isso não é uma questão de pauta de nicho, isso é um fazer político.

Vocês querem é carta branca pra falarem todas as merdas que querem, pra parecerem humanas. No fundo, são egoistas que reproduzem o fazer dos machos que botaram no mundo.

Não tem como chorar por Afeganistão, Itália, Espanha, Síria, e simplesmente esquecer o Chapadão. aliás, vocês nem sabem achar o Chapadão no mapa. Nem Afeganistão. Vocês são superficiais demais.

A realidade que nós brasileiros podemos enfrentar é a nossa.

E a nossa realidade não é bolinho.

Não conte comigo pra chorar sociedade alheia, se nós estamos morrendo.

Não conte comigo.

Isso transcende a hipocrisia. Porque até o hipócrita pra alguma coisa serve, o exemplo do que não ser, já vocês, nem isso.

E sem essa de duas lutas. Ninguém tá com saúde mental nem pra acordar. Procura o PIX do Padre Julio. Faz alguma coisa, chucharra.

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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a última com você na cama.

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