Eu ainda não sou mãe. Mas vou ser.

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Esse tal de dia das mães é sempre um dia difícil pra mim, e pra todo mundo que já não tem mãe. Mas eu nunca vou esquecer tudo que a minha me ensinou e me deixou.


Eu nunca quis necessariamente ser mãe, ser mãe na real, tendo sido criada por uma mãe superprotetora, sempre foi algo que eu não entendia muito bem, mas que me sentia compelida a fazer. Eu tinha que ser mãe porque era o que a sociedade esperava de mim. Cresci, como a maioria das pessoas, acreditando que ser feliz era ter um homem ao seu lado pra constituir família e assim, ser levada a sério como a pessoa adulta e completa que supostamente deveríamos nos tornar depois de casar e ter filhos. Eu não fazia ideia de que dava pra ser feliz fora disso, e por muitos anos, vivi com a angústia de estar infeliz num casamento de merda, tendo esta situação como única possibilidade de ser feliz no mundo. Ainda bem que mudei.


E tudo que estava subentendido e era esperado de mim, graças a Deus e à terapia, foi perdendo sua importância e escoando pelo ralo de quem eu estou me tornando.


Existe a Lídia antes e depois da morte da mãe. Existe a Lídia antes e depois da idealização do “ser mãe” e do casamento abusivo. Existe e resiste hoje a Lídia que ressignificou o amor, as relações e a si mesma. E hoje, aos 36 anos, eu ainda quero ser mãe.


Eu quero ser no mínimo a mãe que eu tive, mesmo sabendo que tudo será diferente, por causa dos tempos e da visão que tenho hoje de mim e do mundo.
A minha mãe me ensinou a ser a melhor pessoa possível apesar de todos os pesares, me ensinou que acolher é mais do que ditar regras e esperar do outro, me ensinou que amar vai além da teoria, da inspiração, do amor que a gente espera ter e nunca tem, mas dá mesmo assim.


Se eu conseguir ser 1% do ponto de compreensão e acolhimento no mundo que minha mãe foi pra mim, eu já me darei por satisfeita. Minha mãe me entendia sem nem se entender. Me acolhia sem muitas vezes querer, mesmo que isso muitas vezes a deixasse triste. Mas o que ela me deixou mesmo, ainda que não soubesse que morreria cedo, foi a ideia de celebrar a vida, de não deixar passar as oportunidades, de ser exatamente quem a gente é, mesmo que ninguém nos entendesse, mesmo que isso nos fizesse estar sozinhos na maior parte das vezes. Essa aceitação de mim, esse amor próprio todo que tenho foi ela quem plantou, quando me disse que eu podia ser quem era e que não era errado ser assim.


Minha mãe não só me gerou como me devolveu e me garantiu à vida, quando me pegou pela mão e me levou à terapia, de onde (ainda bem) nunca mais saí, vinte anos atrás.
Eu devo a minha vida a ela. Eu devo ser quem sou, acreditar e poder ser quem sou completamente a ela.
E eu ainda vou ser mãe nessa vida, seja engravidando ou adotando, foi isso que escolhi pra mim.
Feliz dia das mães, abracem essas mulheres que se tornaram mães no dia em que vocês nasceram, essas que tanto abdicam de suas vidas por vocês. Valorizem, reconheçam-nas, amem-as intensamente. Na medida de todos os possíveis, claro. Na medida dos possíveis de vocês.


Eu amei como pude, o máximo que pude e agradeço até hoje tudo que ela me ensinou.
Não esqueçam também que mães também são mulheres, que amam, erram, amamentam e gozam. Não idealizem essas mulheres que nos geraram, pois elas também são humanas.


Eu ainda não sou mãe, mas vou ser. E tive a melhor que pude, de quem sinto muita muita falta todos os dias.
Feliz dia das mães, com todas as saudades do mundo.

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