A nova trend de fotos e o Transtorno Dismórfico Corporal (TDC)

Leitura: 3 min

Lá vem a chata problematizar as parada… POIS VENHO MERMO! É porque a galera se empolga nas trends e não percebe o que há por trás disso. A questão pra mim não é nem problematizar em geral o uso das redes sociais, o acompanhamento e a necessidade de seguir uma trend, mas do quão nociva uma trend dessas pode ser para pessoas com transtornos de imagem, como o transtorno dismórfico corporal, doença psiquiátrica em que a pessoa tem uma percepção alterada da própria imagem no espelho.

Segundo reportagem da revista Veja, o TDC acomete cerca de 2% da população mundial – e cerca de 4 milhões de pessoas no Brasil. Muito confundido com “excesso de vaidade”, o transtorno tem traços de compulsão, em que a pessoa não vê sua imagem distorcida pura e simplesmente, mas age de forma obsessiva em função dessa percepção. A fim de “disfarçar” o defeito imaginado, a pessoa passa a checar constantemente a própria aparência no espelho, escova excessivamente o cabelo, exagera nos cuidados estéticos. E nunca está satisfeita.

Aí vem um aplicativo e te transforma em belas ilustrações, amenizando suas características, trabalhando simetria e afins, e cês acham que isso passa batido na autoimagem das pessoas? Tem gente morrendo todo dia por isso, num país que ocupa o primeiro lugar na lista de países do mundo que mais realizam cirurgias plásticas.

Conforme matéria do UOL, o Lensa é um aplicativo que usa inteligência artificial para criar avatares a partir de fotos do usuário, e acabou viralizando no fim de semana com o novo recurso Magic Avatars. Além de ser um aplicativo pago, o Lensa não garante a privacidade de seus usuários. A política de privacidade afirma que você está cedendo todas as suas ilustrações para que a empresa use do jeito que quiser. A empresa declara que as fotos do usuário são processadas pela inteligência artificial da companhia, na nuvem, e são apagadas em até 24 horas. Mas não prevê o uso indevido ou vazamentos.

Algumas pessoas apontaram que o aplicativo, como tantas outras inteligências artificiais, tem um viés racista embutido e reforça o fato das bases de dados apresentarem grandes desproporções de raça e gênero. Criando assim, modelos supostamente universais que perpetuam estigmas e preconceitos direcionados às populações minorizadas.

É preciso entender os riscos quanto ao vazamento de dados e imagens, além do risco em nossas vidas. As imagens produzidas pelo aplicativo não condizem com a realidade e cabe a nós saber separar isso na hora de nos entendermos com a nossa imagem, nesse mundo que nos ensina a se odiar o tempo inteiro a fim de alcançar um padrão de beleza inalcançável. E que procuremos ajuda caso não consigamos. O TDC é uma doença séria que não possui tratamento específico além da combinação de antidepressivos e terapia.

O que me ajudou a entender isso foi, além da terapia, claro, desconstruir o padrão de beleza na minha cabeça e entender a unicidade do meu corpo e das minhas características físicas. Trabalho este que é diário e contínuo.

Nascemos como uma revista e uma página nas redes. Alcançamos hoje mais de dois milhões de pessoas por mês com revista, site, redes sociais, youtube e rádio. Falamos com brasileiros no mundo todo. Seu apoio é que faz tudo isso acontecer!

somos a primeira voz
que você ouve pela manhã.
a última com você na cama.

Siga a CT