Nixon e o sistema

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Na madrugada de 9 de maio de 1970, precisamente às 4 da manhã, o carro oficial de Nixon, então presidente dos Estados Unidos, parou em frente ao Lincoln Memorial, aquela estátua daquele sujeito sentado.

Nixon era uma pessoa atormentada. 

Era protestante, quaker, o cara da caixa de aveia? 

Então. Crente. Conservador. Republicano. Os quakers são crentes. 

Crente faz aveia. Quem faz cachaça é Monja Coen.

Na verdade, crente deveria fazer cachaça. 

Jesus fazia. 

Ia pras resenha na Jerusalém boêmia, e transformava água da bica em Moet Chandon. 

Nixon subiu as escadas do Memorial, naquela madrugada. 

Havia manifestantes contra a guerra do Vietnã deitados no chão, jovens, universitários e de movimentos sociais. 

Eles viram Nixon, e foram falar com eles. Imagina. Você dormindo num protesto, quando acorda, é o presidente.

Uma jovem perguntou a Nixon porque ele não podia parar uma guerra que os vietnamitas não queriam, os Estados Unidos não queriam, e até ele, Nixon, disse que não queria, porque já tinha reduzido as verbas de guerra.

E Nixon disse que era complicado demais. Então a jovem disse:

-Você é presidente, mas não tem poder. O sistema quer a guerra. Você na verdade não tem poder de parar a guerra. O sistema é uma besta selvagem.

Nixon desceu dizendo que levou 25 anos na política pra entender o que uma jovem de 19 anos lhe disse. 

O sistema.

O Estados Unidos são uma besta fera.

Não podem parar a guerra, apenas continuar em guerra.

E é nessa cena, que Oliver Stone recriou, que eu penso, quando falamos de Afeganistão. 

O sistema.

Escritor e ativista social, nascido em Madureira, Rio de Janeiro. Em 2016 lançou Rio em Shamas, indicado ao Jabuti de 2017, pela Editora Objetiva. Foi roteirista na Rede Globo e Multishow/A Fábrica, colunista da Folha de São Paulo e Metrópoles.

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